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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Teus olhos

Onde estão teus olhos cor de paz?
Eu vi o invisível saltar aos olhos.
Vi as cores apocalípticas da solidão,
Aquela antiga cumplicidade minha.
Mas acho que tateando te encontrar,
Fiquei invisível, fiquei cego sem teus olhos.
Mas não trato de velhas histórias,
Preciso dos teus olhos em meio à queda.
Preciso dos teus olhos doa em quem doer,
Quero o sangue, quero ver, quero o pra sempre.
Em troca ofereço o meu tempo, quase nada.
Sigo sem pressa, na compressão expressa dos dias.
Ante os holofotes de esconderijo congelo como foto.
Mas onde estão teus olhos cor de existência?
Alívio imediato, sem crime nem religião.
Teus olhos que matam, cegam, queimam:
É fogo é pedra é bala é espinho é minha imensidão.
Teus olhos enxergaram minha solidão.
Eu vi teus olhos saltarem o invisível.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Es aqui... Enumeração

Es aqui, nas entrelinhas imperfeitas da grafia um vivente.
Es aqui, no desespero crédulo da oração um ateu.
Es aqui na vida o paradigma ideológico de porra nenhuma, coisa nula.
Es aqui nos pelos imperfeitos do rosto,
Nos veios da face desgastada os dias idos ao deus dará.
E se negar...?
Es aqui o meu dedo anelar levantado em direção à interrogação.
Es aqui, o subliminar ego gasto no real, irreal, real... Confuso.
Vida, es aqui um vivo, sinônimo não pejorativo do já citado ego.
Es aqui a mordaça que emudece o grito vivo do recém-nascido,
Pelas entrelinhas do Cristo es que bradei, sem confiar na própria alma es que sangrei.
Es aqui com pesar o cabo dessa enumeração,
Sem choro nem perdão de pai, um hercúleo herege que busca comunhão.

Ode ao amor II

I
Quando chegará o fenecimento do padecer?
No desmaio de cada crepúsculo,
Todo o dia rega-me a descrença.
Fermentando meu desalento de mais penar.
Um pouco desse fermento leveda todo o enegrecido peito.
A voz lúgubre a bradar-me: Serene verme!
Queima meu ouvido um mefistofélico canto de danações.
Até o vento lacrima um lamento maldito:
Assim ociosamente reclamando do amor a que me iludi.
Fundo do prato só tristeza, e um copo do azedume.
Mimoseando a conjuração do momento infausto:
Sigo calado, ouço os gemidos das vozes a balbuciar:
Verme, morra.

II
O amor é imaterializado, apagado no círio saudosista.
Amor, se acampares defronte a minha morada:
Viajarei para as contigüidades de outra mentira.
Osculando bocas que não te lembrem,
Bebendo o vinho que te envenene, quero me fartar.
E na minha natureza morta:
Anelo as sobras que precipitam da palma da mão agora vazia.
Ansiando a morte de um amor senhorio de angustias,
Morra minha querida, morra.
O nosso amor cabe nessa caixa retangular.
Filha do caldeirão, queime no meu copo,
Quero ouvir os gritos da tua alma indo pras profundezas.

III
Em que esquina se prostituiu minha alma?
Nos entalhes da tua boca, eu busquei amores mesmo que messalinos.
Refletido em ilusões de multiplicidades pútridas.
Perco-me em cada olhar oblíquo, e no voluptuoso ensaio da amnésia,
É mister pensar em você,
Para lembrar-me que fui o ser mais anódina que te amou.
E até uma macula na tua vivencia.
Não me atormente pretérito amor,
Antes a cova enegrecida sangrando-me o ser,
Que alimentar-me em sentimentos frívolos na desventura dos amores.
Morra minha querida, morra!