capa

capa

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Somático

Ser de conformação anômala. Congrego em meus traços a arrogância infeliz dos desprovidos de rigidez formal.
Mísero em vaidade e truculento ao tato.
Herdei dos meus genitores os cromossomos macambúzios que desfiguram meu fenótipo.
Os genótipos foram se desfiando de prole em prole, até culminar nessa degeneração horrenda que me reviram as entranhas só de pensar.
Vejo minha cara translúcida, os pelos por fazer que crescem em meio aos desgostos.
Leve caminhar do tempo a lembrar que minhas células oxidam. Moam com a perda d’água.
A disposição orgânica já é falha: os tecidos se sobrepujam em lipóides, numa vazo construção de enzimas clivadas.
De forma anatômica sou uma galhardia, de maneira psíquica me assombro com o pensar, na exteriorização desses, uma excrescência, um eruptu que fede.
Percebo em meus olhos a incapacidade, o infinitesimal amor que me adstringe ao compassivo,
Este é o escasso em que me prendo. Estou mais para lombricóide, ou restos de poeira do cosmos que encontraram fluido vivido e eclodiram nessa criatura mefistofélica e sorumbática.
Na fagia da vida se vai minha arcada, a agrupação dos meus átomos erram, incandescem na pestilência subversiva do viver, e eu embalo a morte, tapeando-a com quinhões de concupiscência e entorpecentes.
Minha vida é uma afita que estruge a boca, mal cheirando e atraindo os vermes (ou quem quer que seja).
Os insetos agouram a precipitação, são seres ansiosos por se queimarem com a luz, tragando os vapores queimantes dos lumes, fustigando as asas.
Eu sou este inseto furtivo, este instante de falso milagre inglório e fugaz que se traduz no nada existencial, em versos famélicos e brancos de tão caquéticos.
Meu espírito ainda é incorruptível, sopro divino que me benze em meio às moléstias.
Na minha costela falta um talho, insensatez letífera das minhas migalhas decrépitas e corroídas pelo monóxido.
Discrepância individual, ofuscada e invisível. O mundo me faz de latrina.
Deus não falhe como os genomas dos meus pais.

Coletivo

Apertado, conglomerado de viventes que se amoldam aos espaços deste retângulo metálico.
Que se assemelha de tão cáustico ao inferno.
Os corpos se talham, transpiram o calor da freqüentação física, da devassidão da alma.
Suando com toda contigüidade massiva dos ligamentos que se expandem e se contraem, no entrelaçar dos movimentos corpóreos que me desfalecem em fascínios.
Alguns seres suam o fedor acrimonioso do mormaço do tempo.
Uma fedentina que combusta as narinas, e embrulha as tripas.
Nas confusões de gêneros: não anistio os que são díspares dos feios.
A fêmea pega no ferro e mordisca os lábios, pede pra passar... Bate, arrasta seus peitos em meu dorso, amolga minha tez entre o abrasivo e sua carniça tísica e esplendorosa.
Todos se esfregam devido à eficácia da inércia que nos enrijece.
Que seja eterno enquanto duro. Duro... Duro é o amofino, os semblantes e o falo.
Timidamente me vergo para que ninguém perceba o volume pretensioso da minha maldade.
Toda minha dor vertebral foi provocada pelo inchaço da tua pelve.
Minha alucinação concupiscência tudo.
Peles desnudas, magrezas epiteliais a mostra. Uma perturbação de idéias me vem angustiar os sentidos. E estes, exclamam minha turgescência visual. E logo depois transformá-lo-ei em atos solitários de uma compensação manual.
Moça! Deixa-me lamber tua boca, ventre e vulva?
Quero por a língua dentro da tua embocadura.
Meus olhos se acham nos decotes, na circunferência das tuas ancas de cachorra de esquina.
Minha parada, o coletivo descarrega os mortais feitos dejetos na latrina.
Vão minhas vontades em suas carcaças, num conúbio de prazer e o sal do meu suor vertido em litros de fluidos orgânicos que perdi.
E só de encostar todos os meus membros em vocês (braços, pernas e...) nos moldes dos seus aconchegos, chego ao meu destino desfalecido fisicamente, mas emocionalmente revigorado.
Vou me arrastando por entre o corredor de corpos e luxúria, me friccionando pra ver se entro em vossas cavidades até chegar às vísceras. Sentindo olor de hormônios alucinógenos, proveniente dos entes que se abluíram impecavelmente antes de embarcarem nessa caixa de instantes perenes.
De tão edificado que esta o fálico, quase jaculo a abstração dos prazeres mortais de maneira precoce. Sigo entesado e deflagrando, dentro das vestimentas minhas ergue-se o adormecido patrimônio, outrora tombado ao bombordo. Tal elevo, me induz à imagens dos demais seres deste adstrito grupal.
E eu vos prometo não perdoar uma lembrança. Logo mais, cuspirei na mão esfregando as acepções da alma, gozando em vossas caras e agarrando vossas cinturas, acochando suas nádegas estremecendo minhas veias e rugas em preito a vós.
Com vossa licença, tenho que pegar outro sarro metalino, envernizando minha astucia por entre suas pernas. Saiam da frente, vou passar amassar e palpar. Até gozar em versos.
Lá vem o coletivo, e está apertado. Oba!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O que vejo!

Poética alguma me expede da abstração sôfrega, disso que contratei que fosse viver.
O crepúsculo expandiu sua mantilha de fatuidade, me enredando em aleivosias que desesperadamente absorvi.
Dilatei a existência por entre palavras sujas e folhas truanescas de amor, pensando em aliciar o infinito, pra ver se capitalizava uma fidúcia que seja.
Subtraído em ser. Tornei-me este assombro de melancolias, lacrimejando pelo estrado as dores e desapontamentos que me tragaram ferozmente.
Estas consternações espreitavam-me desde a minha gênese, acariciavam a fronte, me engodando, e agora me fustigam com azougues insuportáveis.
Insaciado pelo infindo, anseio plenitudes impossíveis.
Sinto que a tristeza cotidianamente indica com um sorriso amarelejado e elastômero na face, os melhores candidatos dentre nós para jazerem em seu mando de placidez nuviosa.
Então me escolha! Da tua faceta hei de estouvado sorrir, do meu pálido sujeito um choro não cairá.
Esgotamento nos olhos, a catingueira vaticinou nas minhas linhas e expressões o traumatismo de uma biografia improlífica e fastidiosa.
Sombras demoníacas saem dos entulhos da minha alma, esquadrinho em vão cada destroço, quero encontrar um amor que mereça o meu.
Cá dentro d’alma uma magoa que o verso não que escrever, um travo que me molesta, bolinando a vivência até sangrar. Desesperadamente o verso rumina, quer sair, esbarra nos léxicos, é abafado por impropérios gramaticais que o matam. (vejo que não há verbetes que abreviem a dor).
Quero que amortizem o meu materialismo orgânico, mesmo que seja um esmolo de amor ínfimo e qualquer, e me guache em tons de furta coloração.
Por que eu sigo desabitado de sentimentos e baldado de clareado.
Vejo também, que não há demônios ou deus que me guarde. Vou uivar pra lua o meu ladrido, bebendo toda cachaça dedicada aos santos, de lama, cavo ou este que vos embala.
Nesta heresia verto minha narrativa, transcorrendo minha falação em letras que de tão secas conflagram meus deslumbramentos.
Morrendo do depauperamento da fibra ou do envelhecimento da textura, e não hei de levar uma nostalgia, nem detritos de fé.
Simplesmente deixo a escuridão me abraçar, me resignando de tudo pra gargalhar a cizânia dos meus dias.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Grunhidos de um bêbado pela madrugada de desamor

Tua boca vem me enganar, não permita que o excesso destes me cegue.
Meu pensamento se esvai na tragada do teu cigarro,
Teu cheiro de madrugada vem me prostituir de saudades.
Minha boca quis te beijar, mesmo com o teu paladar travento de vinho corrupto,
Que me narcotiza hepaticamente. E eu busquei esse acerbo pelos dilúculos das minhas veleidades.
Já é tarde, a bebida é candente, teu lacrimejo me suborna, mas que o vinho ludibriador.
Por uma pestanejada do acaso perdi o tempo do negro amor.
A minha raiva agora é contra o asfalto, meus sons de ódio amplifico rumo ao infinito pra ver se te amaldiçoou, com elocuções adejadas que impregnem os céus com nossas mediocridades.
Escrevo estes longos versos pra ninguém e toda bebida que verti faz-me passar mal.
Vem me oscule lentamente a fronte, é a véspera do teu escarro.
Ascenda mais um cigarro, mais um pra encandear a tua escarnecida boca. E não guarde nenhum instante de eternidade pra mim, nenhum minuto ou fidúcia, mas te agradeço pela angustia.
Por essas horas, você só amou a minha parte que a te convêm, agora cospe mais mentiras em mim.
Já que amplifiquei a dor, então escolha o tom pra me deformar em melancolias, te dei meu incomum, de você só mais etílico pra engolir.
A náusea por querer a tua boca, agora é análoga aos vermes errantes da cova frígida.
Mesmo assim, ainda rastejas em meus sonhos.
Quero mais bebida, preciso lubrificar meu lado social, precisava dizer que te amo, precisa desse engano.
Já que fumas: pegues teu isqueiro, e queimes estes versos que não merecem nem o nome de fezes.
Agora finalmente bêbado, vou enfiar o dedo goela abaixo até a divisa de alma e espírito.
Até vomitar cada lembrança.
Foram meus sonhos ceifados na baforada dos desenganos.
Mais uma dose, por favor, e junto traga um punhado de alegria.
Ou um remédio pra enganar a dor.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Pecados

Aqui... Com meus pensamentos desfalecidos e o falo circunstancialmente erigido, sou a prova vivaldina da exacerbação do aprazer e da tua beleza que me consome.
Teus traços sem explicações, definições ou sugestão, elevam mais a reticência da minha imaginação.
Vem cá, me engana os olhos, quero teu gosto de esquina, a poeira das tuas rugas,
Minha quente epiderme em tuas unhas, mergulhar nas profundezas do teu ser.
Baile em meus sonhos com teu perfume ludibriador de doces devaneios.
Nas tuas curvas minha volúpia vive. Nesse momento, meus desejos eu desconto com a palma da mão.
Nas ladeiras do teu aconchego minha mente se perde prostituida de desejos.
No aclive do teu lactário arde rústica inebries do corpo meu.
Em delírios, sigo embebido no sal do teu suor. Quero tua boca mil vezes, mas sempre como se fosse à primeira vez.
Teus tormentos não me fazem santo, e eu agora estático demais pra acordar em meio a sensações tão proibidas.
Quero que minha alma se desprenda do físico de tanto frêmito,
Meus nervos tremem, as carnes fervem, toda intensidade côncava e convexa da casualidade do talhe dos nossos corpos.
Vou gritar! Mata-me com pressa.
Os lábios se tocam, se molda consumido em tua derme, dentro e fora até ver o teu avesso, teu umbigo lambido, molhado na nervura do deleite. Suave e mordido no momento pré-gozo.
Oh...
De mim sai à viscosidade da vida, quente e suja derramada em teu ventre onde quero erguer a minha morada o meu jardim.
Mas era só outra punheta. Vou me lavar.

sábado, 8 de novembro de 2008

Cores de cão

Solidão, escolha as cores pra aquarela meu sofrer. Escolha!
É uma noite comum de um dia sem luz, cor, forma ou plasticidade.
E eu me esgueiro cambaleando de consternação pelos apertados esquadros que me prendem,
Esperando pelas mesclas cinza e negras que virão de posteridade.
Minha completude não esta no múltiplo.
Minha maldição é somar-me ao uno.
Junto às espessas camadas de tintas que mancham minha tela de ódio, raiva e desprezo aos demais.
E nestas maculas afogo-me, mergulho nesse desamor, nessa desventura azeda, sinto o gosto pútrido das improfícuas paixões.
Agrupo meus versos como quem agrupa cadáveres num campo de guerra.
Vou dissertando minha narrativa biográfica de dores por folhas outrora alvas,
Agora rabiscadas com as borras de óleo diesel insolúveis e quentes. Quero é que esbraseie meu viver, pago a cotação por tentar pintar de hílares tons o que sempre vai ser opaco.
Inevitavelmente falo de coisas evitáveis.
Por ainda respirar, as inspirações da alma me fazem suspirar.
Por não amar vou cheirando o rabo dos outros animais até me complementar.
E enquanto procuro amores escondidos, a solidão segue lambendo os pratos fundos ante as fuças minhas.
Eu que busco a coleira, sou forçado a revirar as latrinas em busca de alguma cor.
Então das profundezas uivo ao maldito amor.
Meus olhos de cão sem dono chisparão sempre em busca de mais enganação (solidão).
Estes versos declamo aos cães de rua.

domingo, 24 de agosto de 2008

O PASSO DO TEMPO

Meu embrião miserável vagou pelas apertadas paredes da pré-vida,
Rangendo a raiva do uno num agouro prévio dos mortais,
Eu vou seguindo a existência, arrancando pedaço por pedaço toda melancolia
Que se arrasta cotidianamente. Até descarnar os ossos.
A irrealidade cruel dos passos omissos desgastados pela oxidação das veias carcomidas pelo monóxido de carbono me bate a cara, deflora minha mente.
Vejo a exacerbação do dia, dos raios que torram minha pele cancerigenamente,
Vejo quão algozes são as luzes, e os sons a me desviar, vejo o tempo se esvair num passo descompassado rumo ao nada, ao desprazer de amar cada instante em vida.
Meu corpo já formado pedi uma alma.
Sem sonhos, quero que reste apenas a vida, e que doa cada momento.
Lanço ao inferno a gênese dos amores que hão, eu vaticino, sei vão me sangrar.
Mas nada faço, regozijo-me na dor, é a vida.
Crescem os tecidos, se estraga o fenótipo, meu choro agora é quente,
E minha carne reflete as pancadas da solidão,
Meus olhos deprecam o pútrido de uma compaixão mesmo que preguiçosa como o sono da morte.
Sei que é necessário coadunar meus restos aos restos de outrem,
Sem calmaria numa ressonância de almas coladas como uma patogenia psíquica.
Porém, descreio. O futuro está numa caixa retangular coberta de fenecidos dogmas amorosos. Sem fé o corpo viaja nas mentiras existências, na confusão dos desejos e prolixidade dos versos.
Quero um amor encarnado, que suje minha couraça de caluniadas verdades inglórias,
Mas não há verdades, só um velho embirrento a empunhar o aguilhão da morte bradando sempre o mesmo grito de desilusão ceifando amores que não vivi,
Queimando minha biografia como um feto estéril.
E desfalecido e inerte sou a prova viva desse mundo cão.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O PECADO DOS VERSOS

O desejo desliza nas pontas dos dedos,
As mãos entrelaçadas foi um instante de eternidade.
A mentira começa antes do encostar dos lábios.
Apalpo o silêncio oculto da tua sombra,
E enquanto bailas lentamente, descontentam-me os anseios.
Seu corpo parecia possuído pelo diabo,
E eu querendo exorcizar-te aos afagos.
Mas esta noite tudo vai queimar:
Tão intenso, sem razão e pra sempre.
Só a lascívia impregna o ar.
E nessa definição me arrasto,
Junto a teu corpo noite adentro na insegurança das horas.
O óbvio já foi despedaçado, mas ainda busco teu perigo, teu gosto.
Levado por uma revolução orgânica que me treme as vísceras.
O teu requebrar de fêmea me seduz,
Guia-me por caminhos existências que conduzem aos teus seios,
A minha excitação mais prolongada, ao meu mal mais nocivo.
É só fechar os olhos e sonhar com teu infinito:
Um encanto do cotidiano que me abençoa a centímetros da tua boca.
É minha busca pela “pegada” perfeita que me escraviza.
E em ti se desfaz o poder da minha ira, o sentido da busca.
Nas ancas, nos quadris de mulher voluptuosa, na tua sagacidade.
Vem beija-me a boca. Convido-te a pecar, a cair na vastidão do tempo.
De forma lúbrica num entrelaçar de epidermes, ventos e salivas.
Sem nostalgia do que não foi,
Só a vontade de comer-te na impaciência da carne,
E ainda lamber os ossos.
Até desfalecer todos os meus desejos,
Até penetrar na tua alma.

MEUS, MINHAS E TEUS PRONOMES.

Minhas certezas se fragmentam,
Viram pó diante do céu que se estende como uma mortalha de sonhos.
Ainda sinto meu rosto corado a te ver,
Tão estático e decrépito.
Pensamentos lascivos, isto inclui você.
Mas diante do que falo te excomungarei, com todo o amor das vísceras.
Estas palavras serão minhas confidencias.
Por mais forte que sejam. Eu fecho os olhos antes do escarro.
Mas me prometa: nunca falar que me ama.
Por que quero assim: Sem destino, sem verdades, beijos sem explicação.
A intensidade de um infarto.
Todos os dias grito e alto e fundo que não acredito em amor.
E esta mentira e satisfaz! Qual a sua?
Pintes as unhas de vermelho antes de cravar a faca em meu peito,
Não quero ver teu desmantelo ao me dá as costas,
Nem sentir minha angustia quando beijar-te a fronte.
Assim, distraidamente num desapego de emoções.
Siga esta linha de enganações traçadas no chão, marcas do sangue.
E mesmo assim venha ser a luz do meu farol,
Presos sem alternativas na amplitude do nosso singular.
Aniquilando o comum, mas sem nada de especial,
Não vou olhar em teus olhos e me perceber campeão.
Minha incoerência será a salvação, pois não quero linearidade,
Apenas o concreto cobrindo meu caixão.
Por que eu fujo do que acho ínfimo, e num amplexo apalpo o que me convém.
Beijando o que há por vir:
Tua boca ou escárnio.
Mas não toque em minhas lembranças,
Nem perguntes a meu respeito.
Estes são meus possessivos não subtraia deles seus direitos.
Apenas misture-se a meus desejos, ou serão meus defeitos?
E sirva-me sem pecados o teu doce sabor.

A NOITE DA MINHA MORTE

Eu que cerro meus os olhos esta noite.
Não acho amores que mereçam o meu,
Só o passo lento rumo à campa,
Num compasso lânguido de vida e temor.
Sigo assim: Sem ansiedade o pensamento que me enegrece o pesar.
Ninguém vai ler na minha face horrenda,
Os sinais de tristeza a que me prostitui esta noite.
No fim ante a morte, ah! Minha querida amiga!
Hei de gozo cair na galhardia,
Indo rumo a uma região de paz sinistra.
Onde sombras me enredam e cobrem a vida de negro.
O amor se vai no decorrer da noite,
E ainda não sei nesse açoite diário de madrasta
Que a vida me dá em que consiste o viver?/!
Começo a lamentar os amores que me prostituíram,
E mesmo assim neles cri.
Não há sonhos de paz a regarem minha alma.
A febre rege minha insônia.
A asma regula por baixo minha respiração,
Apagando aos poucos os olhos.
Queria um beijo, em delírio anelo.
Berro até os ecos de solidão alcançarem o infinito,
Estremecendo, puxo a coberta já ardente de suor.
Meu leito refeito em ardor, nesse momento meu espírito se esvai.
Depravam os olhos, cada suspiro é fraco é último.
Suplico na alcova solitária: Não deixem meu corpo morrer abandonado.
No silêncio derramo um canto vão,
Por entre as sombras que bailam em zombaria por meus desamores.
Abro a janela deixo a lua clarear meu quarto-tumba.
Sinto a vida me deixar.
Sem suspiros de fé,
Que os céus inflamem minha ira,
Mas não emplaquem a morte.

sábado, 17 de maio de 2008

Minha comiseração

Peguei meu amor, cobri com uma pá de cal.
Salguei pra espantar os insetos, numa hipertensão de desejos sombrios.
Mas isto, já não serve mais de abrigo.
Minha ira vivente marca o espaço, e com tom cinzento aquarelo as minhas dores,
Num rabisco ultimo em homenagem aos meus desamores.
Entrego a vida por uma por uma esmola de sorte,
Num devaneio irado do tempo fui presenteado com amor.
Um amor estuprado em melancolias que hoje de raiva meus olhos inflamam,
Meu ouvido engana na galhardia incessante de um labor algoz.
Nas trevas murmuram minhas forças cessantes,
Vaga alma no infinito do cosmos junto à invontade de viver.
Deixei o amor nas latrinas sangrando,
O espírito martiriza a carne.
Às vezes me pondera uma agonia suicida,
Mas não esta que mata o físico, e sim a que tortura aos poucos a lânguida existência.
Quem sou eu neste mundo miserável?
Apenas um reflexo do ódio, moldado a imagem dos demais.
Danasse aos poucos os sonhos, não deixarei nem a porta aberta ao sair.
Tapinha nas costas, felicidades!
Nas trevas pungem as forças inconscientes da alma,
Numa rígida ânsia de um coração misero e pobre em venturas,
Que reflete meu ser patético anti o nada do momento infausto do baldão da vida que conduz meus desmantelos rumo à noite enfadonho.
Ladrei pra lua meu canto de lamento,
No canto da boca minhas conspirações de improváveis felicidades.
Tão eternas como uma mentira sem explicação,
Tão intenso como a morte deve ser.
Perdi-me nas lacunas de minha amargura,
Meu pensamento se prostitui na evasão do imo, e se perde na vastidão dos versos.
Mas agora me escravizo a estes,
Definhando vida e morte no meu conglomerado orgânico,
Onde cada molécula queima na descrença.

o dia condenado

Hoje que o mau humor me ferve as entranhas, e a disposição do espírito me apavora. É um dia morto, e não há amores que transcendam a mediocridade da minha matéria, nem recordação benfazeja de nada. Alias, da dor lembrar-me-ei dela amanhã. Minha ira hoje sobe a abóbada celeste, como um clamor de desgraças, rasga o vento meu choro maldito.
Mas em busca de mais desgostos eu me lanço, até o brado alcançar o infinito, ate a vida me deixar. Se é que em mim jazeu alguma hora. Infeliz se fez este instante, a minha voz é abafada, por mais que grite não adianta. As trevas roubam minha feição, atmosfera terrena me renega me risca me deprime. Isso tudo aumenta meu quinhão de lastimas, minha fatídica aventura pelo viver. A verdade é que hoje me arrastei a deplora ao substrato da tangível ausência. Sei, não há altivez em tal derrota, mas não ligo. Dou significância só ao nada que me transubstanciei nesse dia de agouro. Ajoelho-me no ímpeto de uma oração: deus manda a fidúcia. Mas hoje até a certeza me abandonou me deu um riso traidor. Eu um neurastênico! Deixei que me roubassem tudo, todas as migalhas, lavei as mãos ante o dia que chora ido tristemente, que vira lama e amanha com o sol barro se faz, e dele farei minha morada. Erguerei destes alicerces o meu ataúde fortificado, e banharei com a cal pra não nascer uma esperança de novo, nem uma poesia. Hoje eu chafurdo na dor, aproveito cada flagelo, me apego a isso sem querer. Nos cortes me avigoro, mas hoje nem tento me matar, este dia não. Já basta certa incredulidade que me devora o imo e degusta a dita. Ah! Exacerbação do ser em desgraça até quando teu laço de madrasta e tua mão pesada de algoz me afligirão? A resposta não esta no hoje nem nas mentiras do amanha. Então me apunhale o seio, pois a descrença é o meu aditivo, a dor meu subterfúgio. Por hoje rege minha sinfonia de lagrimas, vamos! Bailemos juntos.

sábado, 29 de março de 2008

O amor de um ateu foi pro inferno

Eu apenas um fruto negro de pecados,
Zombando em voz baixa o amor que me devasta a alma,
No sangue coagulado, a dor subterrânea de um aborto de felicidades.
Eu escolhido desde a pré-genitura pelo anjo maldito da desgraça,
Que teima em afofa-me o leito, sempre em vigília, pra não me vir uma dita que seja.
Não me aliança nenhum milagre em algum momento de pestanejada.
Espirituoso, ele fala: melhor o leito quente, que entregar teu coração a ser enterrado a meio palmo de uma vala rasa, onde os vermes corroeriam tua carniça.
Lisonjeado, respondo que prefiro isso ao amor que achei que um dia tive.
Desabafo nos versos aquilo do que meu coração esta cheio,
Se lembranças é o meu laurel, o teu meu amor: será o esquecimento na pestilência.
Pelo beijo mal doado, tua mentira ao sorrir, que o diabo lhe pague, lhe carregue nos braços de campa, te oscule a face com a mesma intensidade com a qual beijasse a boca minha.
Hoje eu só acredito em amor se as almas vibrarem na mesma freqüência de embuste.
Num afago soturno a friagem da alma me emoldurou pra sempre a vida,
Cosi-me de descrença a linha torta dos desejos, borda-me sonhos de medos medonhos
Que espero um dia a que a traça da morte carcoma fio por fio,
Todos estes sentimentos amargos que acabam a vida, que me sentenciam ao azedume,
Que me lembrem amores amaldiçoados. Alias, todas as vezes que preconizei o amar.
Minha porção de penar foi maior, foi algoz, foi mordaz.
O presentemente não me é feérico,
Não há um vivente sequer que caiba em meu amor.
Lanço ao inferno os que me tentam, mesmo que em mim esbraseie em nostalgia.
Não desejo um amor de migalha, um esmolo de caridade por minhas feitorias.
A cada um é dado à parte diária de melancolias, a minha por vezes sobeja.
Vaza pelas beiradas dos meus olhos num choro profano de um ateu que buscava crença em uma mentira.
O anjo cochilou, deixou fugir um misero e nefasto amor de folguedo,
Desgraçou meu peito feito a praga e se foi tão depressa que ainda o sinto.
Mas foi o ultimo que teimei em crer, que deixei me iludir, o ultimo.
De joelhos peço ao anjo que te encarcere nas profundezas, amor de deploras.
Não quero mais um doce milagre desses que a mim minta.
Amor busque seu inferno tranqüilo e morra no esquecimento. Mesmo que eu chore

sábado, 22 de março de 2008

Não consigo falar de amor (ou desamor)

Venha comigo, embarque nas profundezas obscuras da minha alma,
Levar-te-ei a sôfregas lembranças, a amores que descri no passo do cotidiano.
Num ceticismo glorioso de um abnegado ao viver, um viver arrastado e amargo.
É quente a carne coze no mormaço da tarde,
Meus versos esparramam uma dor pelas linhas, essa hora passa rápida,
Nem se nota o labor pra não mal dizer o amor.
O amor que hoje desafio a afortunar-se, a lançar-se ao mar e remar, mesmo sem norte ou céu que o guie.
E logo eu, que nesse ateísmo calo, pois o inferno é a única verdade em minha vida.
Sim, este escuro me encarcera.
Mas não largue minha mão, nestas palavras ainda tentarei falar de amor.
Não desisto, a caneta não risca teu nome,
O amor não consigo conjugar, apenas conjurar, mas essa não é minha lida no momento.
Vendo-me versejando a um amor que não me pertence,
Apenas pequei cobiçando você em meio ao calor, desejando com raiva tua presença,
Quase sinto tua boca, tão perto, ao mesmo baque distante da minha vista.
Mas não habita no meu hipertenso cerne amor algum. Ainda não... Ainda não.
O medo me suborna com comodidade, me soberba com a chegada da vespertina, mas não consigo expressar o óbvio.
Lembro que te prometi um amor escrito, penso num verso,
Cá dentro das entranhas ele grunhe esta fera me apavora, mas não sai.
Os versos são como sal nas feridas, dói, mas logo gozo.
Indago: amor, amor... Onde estas? Onde? Que não responde as minhas suplicas.
-mas como pode um ateu clamar? Há esperanças? A culpa é sua porque não morre?
Fecho os olhos, imagino teu passo ao meu lado, vejo, achei, estava perdido nas confusões do léxico do poema e no meu desespero por não te ter.
Pois quero tua alma junta a minha sombra, aos meus cacos de miséria.
Mesmo que me amaldiçoe a vida, e me faça renegar a descrença em que me abrigo.
O calor não passa aperto tua face um pouco mais na mente,
Mais e mais, ate sangrar, ate teu tangível vulto me alumiar.
Ainda não espremi tudo do âmago, mas sei por estes versos te amei,
Porém, de amor não mais discorrerei, mostrarei todas as vezes que embarcares comigo nas idas a minha essência, e sempre que na tua mentira acreditar comboiarei, pois nela me encubro.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Cálculos da dor


Meu peito, couraçado das desditas amorosas, e na podridão destes desfrutes a dor,
Chafurdo numa só pestilência as síndromes inatas de um amor sorumbático.
Maldito dia em que olhei pra ti, e não viajei pras moradas doutro embuste.
Tudo fede ao cheiro pútrido do renego,
Da míngua dos sentidos desgraçados dos meus dissabores de viver.
Mas não vou carregar pro etéreo os farrapos desse luto.
Meu miserável ser excelso em lagrimas,
Pari na fuça sete vezes mais a idade ida cabalisticamente o preâmbulo das dores.
Nos cálculos execrados dos dias, subtrai cinco dias do que ajuizei que fosse belo.
Uma felicidade tão fácil assim não dura ininterruptamente,
Pensei que era minha compensação do destino sórdido, na minha inacabável quarta feira de cinzas.
O detrito dos 360 dias lanço no lago de enxofre.
Nessa equação de deploras, mais uma fração de desgostos pra cada anelo meu.
Parindo a cada tempo uma espécie de amblose apoteótica de tristezas infindas.
No meu quarto de século de existência, não vejo uma fenecida flor,
Um instante válido que não seja de pavor, que não seja do meu inútil amor dedicado a seres insubmissos, que não seja comida para os vermes.
Mostrem-me um coração sem amores tolos, e te mostro um homem feliz,
Mesmo com sussurros de um legado de lastimas.
Prefiro um inferno tranqüilo, que capitalizar meus míseros centavos pelas migalhas de um amor nefasto, como um cão indigente das ruas.
No fim da minha lida, peço-te, empresta-me teus ouvidos.
Preciso bradar meu berro nostálgico pelos telhados do cosmo.
Mas o caos cá dentro profana meus sonhos, estupra o cerne.
Apodrecendo tudo que não é vida.
Parasitando o que não vivi: Amor e vida, entregues a mercê da orgia do tempo,
Nas mentiras do cotidiano, essas pragas que me assolam.
No beijo pretérito que me rouba a noite, mas não tenho uma fé mais em nada.
Minha espera é uma campa rala, os fulgores das velas da morte a alumiar as andanças,
Essa luz invade as fissuras da alma, clarão final.
Morro? Ainda não, foi só mais uma dor. Quem dera o peito parasse.
Pois não há amores que caibam em meus sonhos, não há luz que me core a face.
Só meu peito por mais dias a atracar desventuras.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Dias e noites

Já irrompe amor à alva habitual,
Desta luz se fez a natureza, e o berço das minhas paixões.
E na escolha de temas ao meu canto, você me vem como requintada sonoridade. O conflito das nossas almas no contra-senso constante que faço na sublimação dos nossos desejos antagônicos.
O ser fadiga-se na alusão dos entalhos dos teus lábios, Na tentativa de livrar-me dos dissabores do viver.
Só minha alma em funesto desânimo, Por te ver sem te ter, seguiu no dilúculo caminhar do mal.
Teu riso pra outro me faz desistir, tua lagrima me faz reclinar.
São dias de tormenta e eu versejo por te amar.
Mas amor, feche os olhos antes do beijo, E me faça um voto de perto de não imolar a fidelidade.
Que eu te dou o escarro terno e um peito sem dureza.
Murmurando minhas duvidas nos teus ouvidos, Vertendo lastimas e comboiando tuas mentiras.
A nefasta mantilha com que crepúsculo cobre o firmamento, Asfixiando o sol na tua face brilhadora.
Enterra-me suavemente nas tuas lembranças, A chuva cai e eu ornei meu coração como um caixão, com flores mui raras,
Falando de sentimentos profundos vou sepultando minha alma, Na fealdade do teu saber desdenhoso.
Condenado nesta solidão eu me escondo, Mas não tenho medo de pintar o céu. Antes que a noite adormeça meus olhos, Medito em você outra vez, que vou fazer se a noite vier sem seu rosto?
Meu amor já vivi por um instante o saboreado do lirismo poético.
E canto num tom clamado que do celeste raspei você, beijei você, e assim “vivo”. Passando apenas no ruído do tédio, meus miseráveis dias.
Debruçando-me no horizonte e a perguntar amor você já viu que linda manhã?

Amaldiçoado pela tristeza

Tudo sepulta-me a vida,
Sou hospede desta dor,
Pois vivo atrelado ao desalento
Já não há mais fim o tormento,
A não ser numa caixa retangular, coberta de cal.
Não vou dormir, pois a dor não passa,
Apunhala-me o seio como um infarto.
E na equivalência dos vermes que saem
Da boca de um defunto, parasita-me a alma.
Carregando-me no bico do corvo.
Fui anamatizado pela macambúzia,
Ficando a ponto de uma sincope.
É o efeito do osculo quente da morte,
Pois, carrego o peso de tantas moléstias,
Na exigüidade deste meu ser.
Repilo a alegria.
Sou signatário desta vida infecunda,
Na semelhança de óvulo lançado ao fogo.
Um visionário da desilusão.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

mais cortes

Mais uma vez eu cortei com a navalha o imo e os amores não apalavrados.
Mais uma vez cri nos arcanos nulos que hão de sepultar-me.
A dor é o primitivo sentimento de nós letíferos, crédulo ou não.
E a mim é destinado o sobejo destas embrionárias. É o castigo por ser simplório.
Sangrando como um animal no tacho, vertendo minhas lagrimas e versos,
Num maldito fadário de aspirações.
Presentemente a noite passa arrastada, para que eu rumine tua face nas trevas,
Como um desvairado de amargura aprisionado por teus medos.
Menti quando jurei a Deus não impetrar orações por ti.
Mas quem não menti?
Somente eu carrego agora a angustia do existir e do nada ser,
Do meu riso em face abortada, tão precoce que ainda o recordo.
As feridas um dia irão gangrenar, e espero que o podre seja sacrificado.
É mister que eu resista às intempéries da regia vida,
E sobreviva a infernos de isolamento, na abastança dos fúteis amores.
Busco refugio na mediocridade do avivamento, na dor gástrica da fome,
Pra ver se expurgo meu pensar a ti, Pra mais uma vez tentar mentir.
Mas agora não me importa se roerem minha alma, ou se me escarnecerem vivo.
Na cruz uivaria os amores que não vivi,
E Aos demônios entrego o fado do meu lúgubre destino.
Fecho as pálpebras, tua imagem ainda me assombra,
Subtraiu nesta hora morta a irrisória fatia ditosa,
Todas as vezes que silenciosamente segredei no teu ouvido o verbete amar,
E ansiosamente anelei as primeiras luzes só pra te ver.
Choro. Achava-me incapaz de tal feitoria, achava-me um titã.
O lacrimejo que vivi reflui meu altruísmo gasto, mas não te apaga.
A alvorada vem triste como uma endemia, soluçante e frígida,
Esquartejada por odes infrutíferas e sem proficuidade.
Não murmuro do sono roubado, mas bravo aos céus os sonhos decepados,
E o amor jamais conquistado, só materializado em sofrer, e nisso, que seja sempre o meu. Mais uma dose, mais uma osmose, mais... Pra ver se eu aprendo.
E nesta divida que a vida capricha em não amortizar, mas nem na minha lida amorosa.
Mais uma vez vou remando pra fé, quem sabe uma placidez me domine, quem sabe?
Mas agora devora-me dor, deleita-te, sem trégua sangre-me um pouco mais.