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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Teus olhos

Onde estão teus olhos cor de paz?
Eu vi o invisível saltar aos olhos.
Vi as cores apocalípticas da solidão,
Aquela antiga cumplicidade minha.
Mas acho que tateando te encontrar,
Fiquei invisível, fiquei cego sem teus olhos.
Mas não trato de velhas histórias,
Preciso dos teus olhos em meio à queda.
Preciso dos teus olhos doa em quem doer,
Quero o sangue, quero ver, quero o pra sempre.
Em troca ofereço o meu tempo, quase nada.
Sigo sem pressa, na compressão expressa dos dias.
Ante os holofotes de esconderijo congelo como foto.
Mas onde estão teus olhos cor de existência?
Alívio imediato, sem crime nem religião.
Teus olhos que matam, cegam, queimam:
É fogo é pedra é bala é espinho é minha imensidão.
Teus olhos enxergaram minha solidão.
Eu vi teus olhos saltarem o invisível.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Es aqui... Enumeração

Es aqui, nas entrelinhas imperfeitas da grafia um vivente.
Es aqui, no desespero crédulo da oração um ateu.
Es aqui na vida o paradigma ideológico de porra nenhuma, coisa nula.
Es aqui nos pelos imperfeitos do rosto,
Nos veios da face desgastada os dias idos ao deus dará.
E se negar...?
Es aqui o meu dedo anelar levantado em direção à interrogação.
Es aqui, o subliminar ego gasto no real, irreal, real... Confuso.
Vida, es aqui um vivo, sinônimo não pejorativo do já citado ego.
Es aqui a mordaça que emudece o grito vivo do recém-nascido,
Pelas entrelinhas do Cristo es que bradei, sem confiar na própria alma es que sangrei.
Es aqui com pesar o cabo dessa enumeração,
Sem choro nem perdão de pai, um hercúleo herege que busca comunhão.

Ode ao amor II

I
Quando chegará o fenecimento do padecer?
No desmaio de cada crepúsculo,
Todo o dia rega-me a descrença.
Fermentando meu desalento de mais penar.
Um pouco desse fermento leveda todo o enegrecido peito.
A voz lúgubre a bradar-me: Serene verme!
Queima meu ouvido um mefistofélico canto de danações.
Até o vento lacrima um lamento maldito:
Assim ociosamente reclamando do amor a que me iludi.
Fundo do prato só tristeza, e um copo do azedume.
Mimoseando a conjuração do momento infausto:
Sigo calado, ouço os gemidos das vozes a balbuciar:
Verme, morra.

II
O amor é imaterializado, apagado no círio saudosista.
Amor, se acampares defronte a minha morada:
Viajarei para as contigüidades de outra mentira.
Osculando bocas que não te lembrem,
Bebendo o vinho que te envenene, quero me fartar.
E na minha natureza morta:
Anelo as sobras que precipitam da palma da mão agora vazia.
Ansiando a morte de um amor senhorio de angustias,
Morra minha querida, morra.
O nosso amor cabe nessa caixa retangular.
Filha do caldeirão, queime no meu copo,
Quero ouvir os gritos da tua alma indo pras profundezas.

III
Em que esquina se prostituiu minha alma?
Nos entalhes da tua boca, eu busquei amores mesmo que messalinos.
Refletido em ilusões de multiplicidades pútridas.
Perco-me em cada olhar oblíquo, e no voluptuoso ensaio da amnésia,
É mister pensar em você,
Para lembrar-me que fui o ser mais anódina que te amou.
E até uma macula na tua vivencia.
Não me atormente pretérito amor,
Antes a cova enegrecida sangrando-me o ser,
Que alimentar-me em sentimentos frívolos na desventura dos amores.
Morra minha querida, morra!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Aqui (ou fragmentos da linguagem escrita)

Aqui:

O produto discordado de uma imaginação ousada.

Aqui nessa passagem,

Paisagem de um escritor.

Aqui nesse poema,

Dessa interface pra fora,

O poema/vida, a forma:

Fragmentos...

... Que ficam como uma saudade de um tempo que nunca se foi.

Aqui nesse poema,

Poeta um operário dos versos brancos.

Aqui nesse teu corpo,

Nas sombras dos versos:

O mundo é só miragem.

Aqui no silêncio da virgula,

Imensidão – a voz da vastidão.

O calo antes do beijo,

A palavra que não volta atrás,

O instante que desmoronou.

Aqui nesse poema,

Meus versos ao teu intento.

sábado, 10 de abril de 2010

O impudico

Consintam que eu seja dadivoso desde o princípio:
Vocês não vão gostar de mim.
Os cavalheiros terão invídia; E as senhoras nojo.
Vocês não vão gostar de mim agora.
E passarão a gostar menos com o tempo.
Senhoras um aviso:
Quero transar. O tempo todo.
Não estou me gabando nem opinando,
É apenas uma comprovação médica.
Eu sou promíscuo.
E vocês me verão sendo promíscuo , e irão suspirar, não façam isso.
É melhor pra vocês, verem e tirarem suas conclusões de longe do que eu enfiar meu membro dentro de vossas anáguas.

Cavalheiros, não se desesperem.
Também sou promíscuo com vocês,
e vale a mesma advertência.
Controlem suas ereções até eu acabar de falar, mas tarde, quando transarem...
E mais tarde vocês vão transar.
Esperarei isso de vocês e saberei se me decepcionarem.
Eu quero que transem com minha efígie em miniatura rastejando em suas gônadas.
quero que sintam e pensem:
Este tremor foi o mesmo que ele sentiu?
Ele conheceu algo mais profundo?
Ou existe alguma parede de indigência na qual todos nós açoitamos a cabeça naquele momento pulcro e eternal?

É isso!
Esse foi meu exórdio.
Nada rimado, ausência de falsa modéstia.
Espero que vocês queiram isso.
E agora vocês gostam de mim?
Vocês gostam de mim?
Gostam?

quarta-feira, 31 de março de 2010

Tamarindo de desventuras

Hoje... Que o coração mal bate o peito golpeado pelo enfado,

E a vida azeda atroz sangue e imensa... Treva densa.

Solidão regada a doses aliviantes de sulfato de salbutamol.

Pra ver se alivia o imo.

Pra ver se acalenta a nervura.

Pra ver se respiro sem dor e sem arte.

O coração que teima em bater junto à sombra da tamarindo:

Leva a vida devagar, acho que se enfada do viver.

Os tecidos que oxidam recobrem meu hermético coração.

Coração... Avisem para entregar o viver.

Mas não serei enterrado junto às estirpes dessa tamarindo,

Não me joguem na laje fria dos campos santos.

O ataúde não será o fim.

Nem a necrose dos dias sem luz, paz ou serenidade.

Quero até os dias mazelados.

Os dias enxofre, os dias carniça e peçonha fedorenta.

Os dias acrimoniosos sem ela.

Bate calado coração: apanha, lacrimeja, geme... Azedamente.

Clama um colo coração!

Clama um colo, que eu choro pra perto do corpo dela,

Ou para a próxima dose de tóxico.

Clareia minha vida amor no olhar.

Porém hoje... Só desventuras.

E a azeda babugem que escorre pelo canto da boca morta.

terça-feira, 23 de março de 2010

A vida é doce

Perdoe-me, hoje murmurei por todos os cotidianos.
Praguejei.
Vociferei as heresias de um mundo doentio nos ouvidos surdos de entidades senis.
Pequei, culpei a Deus pela minha senda dolorosa e incrédula.
A vida é doce, me perdoe pelo choro de mulher:
Lamuria de mãe que perde o filho recém desmamado.
Dos sonhos soturnos acordo aterrado:
Nos escombros noturnos minha alma se entrega.
Vejo o futuro passando na queda.
Queda que a todos transtorna.
Não chore, a vida é doce.


Perdoe-me, a sensação de perda exagera.
É que tenho nas bochechas câimbras de um riso plástico e tenebroso,
Estampo na face dores de uma alegria incompleta:
São risos burros e paranóicos que não enxergam a velocidade terrível da queda...
Descomunal queda. E eu choro.
A vida é doce miscigenada a lagrimas.
E agora, próximo ao chão, na velocidade celeste da queda:
Vejo até a tumba a reluzir,
Vejo os demônios a rugirem monstruosos urros de agonia.
Eles me chamam, querem minhas vísceras.
Gritam: amaine verme, bem vindo ao inferno mais tranquilo.
Malditos cães, vos ofereço meu gasto riso de vida doce.


Resvalei na beirada do abismo, vi a odiosidade da vida...
Ri, a vida é doce, veneniferamente doce.
Perdoe-me.
Agora todos veem a queda.
O choro de mãe procura alento:
Malditos cães a fuçarem minha latrina em busca dos restos...
Inquietam os restos do meu imponderável nada.
Vos oferendo todo o meu nada. Todo!
Procuro a boca que se atrasou em me salvar.
E eu cai tão depressa, tão depressa, tão... Vestigioso,
Cadente como uma expressão pré-fabricada de alegria.
Esqueci-me de mim mesmo por entre os escombros: tão sem pressa pra vida.
Perdoe-me, mas a vida não é doce porra nenhuma.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Frio

Gélido: o coração.

No frio tudo é mais solitário:

Imponderável;

Sobejo de tempo, palpável nada.

Madrugada sem o gosto do eterno.

A alma que se desprende do corpo...

Procura a imensidão,

Que pode ser até ser de outra carcaça fria.

A carne de outrem me confortaria.

A tua carne eu rosnaria.

Refugiando-me em portas fechadas:

Queria acolhida.

Como um cão vociferando ladridos de agouro:

Arranhei tua porta.

Talhei na madeira oca e carcomida

Açougues profundos de dor, saudades, ou apenas frio.

As reverberações da carniça não me coram a pálida face.

Gélido me encovo.

Frio... O frio aço do incisivo corte retalhou o coração.

Fazia frio, e o frio me fazia.

Abrigo: a te seguir.

segunda-feira, 15 de março de 2010

conto postado

Conto postado no seguinte endereço:

http://www.4shared.com/file/241793460/8bdd7fa5/ensaio_II.html

E não se assustem, foi tudo fruto do meu eu lírico.


é só clicar em baixar e se preparar para rir bastante.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Hora

Reverberações de um espectro sofrido,
Onde ando por horas dentro de mim,
Palmilhando meus próprios esquadros,
Numa hora morta sem fim:
Assim se titularia a solidão - sobra de hora.
Nas minhas ladeiras estreito e afino:
Até virar uma sombra:
Uma sombra sem alma,
Uma sombra atrelada a tua:
Indivisível e prosaica como o cotidiano.
Sempre careceremos de um pouco mais de alma.
Sempre mais perto da essência,
Onde nossas acepções possam respirar puramente.
Numa espécie de hora preguiçosa:
Uma claridade lívida nos enreda...
Sem pressa. É tudo tão sereno.
Deixa-se assim, o anseio não desnutre a medida.
Recolhemos passo a passo nossas poesias do chão.
E a noite que se arqueia rígida no firmamento:
Manto de sonhos a destroçar nossa solidão.
Deixai a hora morrer solitária a pele.
Deixai a boca sugar a pele.
Deixai a pele encrespar ao toque.
Deixai o toque aliciar os desejos.
Deixai os desejos tomarem conta.
Porque agora é tudo por nossa conta,
Tabuada e melodia... Nossa maneira... Nossa hora.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Palavra

Almas palpáveis:
Apenas nesse momento...
Aqui nesse momento:
Indiferentes a solidão.
Agoniante solidão.
Não temos medo da solidão:
Apenas respeito.
Ter medo da solidão é ter medo da vida.
É ter medo de nós mesmo:
E isso não nos interessa.
Duramos o tempo que o eterno merece.
Como palavras, como paixões, como canções.
E as razões:
Que seja à nossa maneira.
A partir da solidão nos reconstruímos.
Solidão: Palavra líquida.
Escorra pelo ralo,
E não nos incomode mais.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Palavras que escreveria no teu corpo

Corpo...

Nas tuas curvas meus desejos vivem:
Buscando o obscuro-claro derme com as mãos.
Fazendo o coração corar de vez.
Unhas buscam a carne alheia.
Minha carne, tua unha:
Leva um pedaço de mim.
No teu corpo só...
No teu corpo o meu...
No teu corpo o sol, o quente do asfalto.
No teu corpo: o objeto da vontade.
No teu corpo... Arrepio ao toque do meu.
No teu corpo... Ergui a morada da minha ambição.

Achego...

Sobre a encosta do meu corpo:
A delicada embriaguez do corpo teu.
O vento sopra o sussurro dos teus lábios.
Os lábios que se tocam, friccionam:
Silencio, uma vontade imponderável de gritar...
Mormaço... Adular o corpo teu:
Tiquinho do céu que dependurei sobre minha morada.
E o sangue que ferve num murmúrio de arrepiar.
A respiração que ofega: sentidos apurados.
O suor que cerra os olhos, arde, ferve o corpo teu e o meu.
Achego nas mãos que procuram teus cabelos.
Achego... Achei meu vicio, meu novo deturpo:
Teu achego: aconchego das rimas e corpo meu.

Morada...

Impreciso e acolhedor:
Teu corpo que me guia;
Teu corpo abrigo.
Não tenho querer, vago em ti.
Corpo vago sem ti.
Encher nosso corpo e copo quente com luz,
Luz que fura e alumia nossos corpos ardentes.
Pertos da mesma essência:
Sentidos que respiram a volúpia dos encontros casuais.
Amasso... Coadunação de matéria,
Veias que querem se encontrar.
Bocas... Entrelace de línguas.
A nuca que eriçou, franzindo nossos desejos.
Bocas que mordem a ânsia por carne quente.
Boca... Minha morada misteriosa.
Boca: onde começam meus sonhos.
Boca e corpo: meu achego.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

P/ nós 2

Eu... Para nós dois assim:
Para nós dois o murmuro de arrepiar;
Para nós dois cantigas pra bailar;
Para nós dois o multou gostar.

Eu... Para nós dois sem fim.
Para nós dois o talvez.
Para nós dois o repartir,
O conviver, o espalhar, se controlar.

Eu... O esvair, o encantar, descontrair:
Nunca descompassar.
Para nós dois, o simplório desses versos pra desentediar.
Até quando o eterno durar.

Eu... Para nós dois o restinho do imponderável,
O nada, inexorável, eterno, o inexeqüível e tudo.
Para nós dois: empatia, afeto, afinidade, amor:
Ocitocina.

Eu... Para nós dois enfim:
Finito até quando nosso Deus deixar;
Até quando nosso Deus sorrir e se contentar;
Até quando tua alma me abraçar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Desesperos do verbo

Há um subjuntivo, um retrógado gemido inteligível de um sentimento que não cabe na imensidão da alma.
Sai do âmago, solitário, abafado, quase inexprimível.
O clamor é tímido, se esgueira, esbarra na traquéia, pugna pra não se perder.
Vibra não desiste e mesmo inerme quer bradar ao teu intento.
Numa servidão de minha exclamação e teu escutado.
Berreiros que explodem dos meus lábios gélidos gritando o teu nome.
Cada letra é cuspida desesperadamente.
Desequilibradas, guinam pela beirada do meu gemido.
Desprega das minhas letras guturais uma amargura,
Os versos sentem falta do teu excesso,
E meus gritos ecoam ao desperdício de uma idéia corrosiva,
Que vai me destruído, descontrolando... Amando-te.
Dos meus amores quero ao menos o básico, o essencial, ou o que sobejar.
Se tiver ósculo quero o exponencial, hausto salivante e quente.
Natureza humana em ruínas sou louco de raiva.
Na loucura tudo coexiste intenso e trágico.
E me deslínguo dos outros, num monstro de extensa humanidade:
Eu hoje vendi a alma, financiei por um beijo, lucrei desesperos.
Silencio! Quero gritar e sou taciturno.
Então múrmuro teu nome pelos ouvidos surdos do mundo.
Amortiza! Harmoniza! O tom original.
Tua boca me calou.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carnívoro (ou corpo II)

Por que a ti, eu absorvo.
O meu corpo que a transcendência de uma alma.
O corpo aprisiona a alma:
Invólucro de carne.
Alma inoxidável: salta pra roer a tua alma.
Acho que esqueci minha alma na esquina babada das intenções;
Esqueci nas entrâncias que desesperadamente busco morder;
Esqueci-a na minha fome carnívora que saliva tua carne.
Carne em que quero fincar o dente e abrir sulcos aos caninos.
Esputo tua carcaça, mastigo teu gosto forte e quente.
Quero morder, arrancar a língua, deixar a pele alva rocha:
Chupada de desejos; desesperada. Quero a alma.
A minha aspiração é aglutinada nas ruínas do teu ser cuspido:
Babado; água e boca. Quero a pele.
As palavras arranham a goela.
Desfalecido no mormaço da tua derme:
Eu descobri um mundo só meu.
Ele é estático na sobriedade mental,
E só rotaciona no vicio desesperado do beijo teu: lambido.
Não quero as carnes viradas ao meu oposto.
Tento transcender as barreiras do anatômico na saliva.
Em busca eterna pelo teu metafísico:
Eu vou babando tua sede com a ebriedade da minha boca.
No gosto azedo do sal da tua pele, no afrodisíaco do teu cuspe.
Absorvo a ti, por quê?.

Sinestesia

Somatório das sensações corpóreas.
A metafísica corroeu o hemisfério direito do meu cérebro.
Queria um coração de polímero que desmistificasse os desenhos borrados da minha face.
Talvez haja entre nós o mais total infinito.
Uma espécie de antes e depois,
Onde meu agora se transforma em tudo e todos os segundos se perdem no ar.
A minha alma esta noite ganhou um riso.
Agora eu cuido da vivência gástrica.
Mas não sei em que cor, em que tom, ou em que voz rouca se perdeu o olhar;
O meu olhar amargo e quente esqueceu uma lagrima sobre a pele escura.
Mas eu ainda mimo a vida que há lá fora,
Lá pra longe da minha imensidão:
Onde eu sou apenas um amante... Simples amante.
Que antes de te conhecer eu nem sonhava em ser.
E assim ante os olhos, antes dos lábios se tocarem, na hora última da sinestesia,
Quando as palavras já emudeceram o choro de desalento... Desencanto...
Vi tua boca: e nada nem que eu morra traduz o agora nem conjuga o nós.
Minha alma esta noite ganhou um riso.

Corpo

Metafosearia teu corpo em objeto: só pra mim.
Intocado por meus sentimentos silenciosos.
Palavras... Não necessito delas.
O silêncio exprime o prolixo.
Bocas, fala, dicção:
O silêncio não menti jamais.
Minha palavra fogo, carvão, cinza.
Quero as palavras rocas.
Melhor: quero as palavras mudas.
Quero o inexprimível.
Quero aquela palavra que escapou num sussurro.
Que nenhuma figura se interponha entre meu lábio e tua boca.
Tua boca... Incendiaria.
Que o silêncio ao nosso derredor seja apenas alteio de vermelho chupado.
Carmesim do teu corpo.
Teu corpo... Uma constante ao meu lado.
Corpo... Onde meu infinito se acha,
Onde meus vários eus se encontram,
Mesmo perdidos no mesmo reflexo turvo dos teus olhos estreitos,
Olhos encerrados de dúvidas e miscigenados de desejos.
Desordem de vísceras e almas num mesmo corpo.
Abnegado ao corpo.
Um sentimento egoísta de querer teu corpo só pra mim.
Corpo... Onde meu finito jaz feliz.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cumplicidade

Eu trago na caneta todas as cores,
Riscando teu nome pela madrugada.
Tateando a modelagem da tua derme com todas as palavras.
Todas! E mais esta que tua boca calou aos beijos.
Sussurrando ao teu ouvido as mentiras que nos interessam.
Só as convenientes... Lógico!
Não desperdiçarei nossa eternidade em embustes.
Nossa escuridão: o instante infinito, perene, calmo.
Palpável escuridão.
Queima as retinas o sal do suor:
O suor do desejo, o sal da vida.
Corpos ficam ofegantes e encrespados com a proximidade:
Nervoso! Palavras se libertam junto às salivas.
A escuridão se mistifica em nossos braços.
Abrasadora escuridão.
Devorarei tua carne nessa minha vontade faminta.
Vontade carnívora que procura a imensidão dos teus entalhes.
Corrompo a cobiça por tua carne com minha caneta de múltiplas cores.
Na escuridão minha caneta reluz:
Ela quer alumiar o teu nome;
Ela que riscar de versos o finito avesso dos nossos corpos.
Na mansidão da minha alma eu gravarei o teu nome:
Tatuando com o ardor dos teus beijos a minha fome.
Dos grafites da escuridão eu levantei este verso:
Faminto; ósseo; ruído e teu.
Na cumplicidade das nossas bocas eu risquei até a escuridão.
Adeus escuridão, a Deus.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sentimentos ( ou isso é amor)

As vaidades saltam aos olhos,
certas palavras destroem o amor.
Vejo que todas as vertigens foram só maldades da alma,
Todas as vertigens foram crueldades.
Concluo que o amor é uma cortesã de pernas escancaradas,
que de tão esburacadas percebem-se as entranhas...
Penetro sem medo, rasgando a pele e transcendendo barreiras orgânicas,
por entre as pernas, dentro e fora, até me esvair em tremor.
Num vai-e-vem pulsante, um compasso binário, até desfalecer-me em seiva.
Ufa! É o fim de mais uma batalha de veias.
E depois de lavada: o amor há de cobra seu preço.
Quaisquer trinta moedas de prata saciam a ânsia egoísta, pagam as ilusões cedidas.
Mas calma! Observo tudo, imito.
Concluo que me venderia por menos.
Aprendo tudo, e enquanto gozo:
formulo minhas teorias de caos.
A minha alma é carnívora, corrói os tecidos, descolorando imensidão.
Descoberta todas as vergonhas da cara:
outra masturbação de sonhos a contrair-me os nervos, a aliviar-me os desejos.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Chupa!

Era o falo inerte, sem uso aparente para o pejo.
Paguei! Chupa com a alma... Com força, mas não morda.
Quero esvaziar o imo da raiva, as veias do monóxido.
Quero gritar a luxuria das minhas vontades.
Acima de tudo: quero que você chupe!
A vida se finda em segundos eternos.
Na chupada o tempo para, paralisa precedendo o gozo.
Eu pago, pagaria a essência das tuas entranhas escancaradas.
Então foda o mundo com suas pernas abertas.
Eu quero garantias de uma gozada perfeita e gostosa.
E que o dinheiro não seja meu vírus nem meu algoz,
Mas que sejamos eternos em quanto duro.
Duro... Chupa até fenecer-me em êxtase.
O tempo não acabou: pago a atenção; pago o ego;
Pago a velocidade da obscenidade... Puta que pariu alado!
Quero-te mal dizer só pra mostrar que sou cruel.
Sem carinho nem conversa... Entope a boca.
Eu pago: então chupa!
Gozei!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Talvez

Talvez fosse amor.
Talvez coragem de chorar de rir.
Talvez fosse meu medo batendo forte e gritante no âmago,
Ruindo os vitrais do inferno e diluindo o demônio em versos.
Talvez...
Só sei que tentei fugir do condicional.
Sei das armadilhas, das ruas cinza, desse chão riscado de giz.
Sei que você fica bem sobre esses tons de cinza e seus olhos negros.
Sei que há amores que só enxergam os dividendos.
Sei que fico melhor junto a tua boca.
Talvez amor...
Talvez meu amor só seja contemplação.
Talvez imaginação, imagem em ação.
E eu procuro algo novo que me traga satisfação.
Talvez amor...
Não sei, só espero que teu sorriso nunca canse da minha voz.
Pois a vida ainda vale o sorriso que tenho pra te dar.
Talvez

domingo, 17 de janeiro de 2010

Rabisco

Paredes orgânicas riscadas, encardidas de suor.
Alma caiada pra lavar.
Alma colorida de folguedos.
Quero aparentar a serenidade louca dos outros.
Queria mesmo era ter rabiscado teu nome em carne crua:
Podre; talhado; ardente; amargosa feito cachaça.
Tua carne... Queria ter riscado meus versos na tua pele nua:
Ausente; pó; frigida; incisiva feito navalha cega...
Penetrou a dimensão da alma e espírito.
Talhou minha carne morta. Vivo de tintas.
Sonhos feitos de desenhos não aquarelam o céu.
Corpos rabiscados do barro celeste.
No teu corpo-chama edificaria sonhos de poeira e vento:
Restos do nada.
As almas não traduzem/diferenciam o que é solitude ou solidão.
Num rabisco imenso e transitivo:
Riscava no teu corpo meu infinito.
Tatuado, versos não mentem jamais.
Suor lagrima e desejo:
São as tintas que uso para colorir o meu rabisco.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Estes versos de raiva

Nestes versos vim cantar minha vida,
Meu retrato sem cor, minha voz sem paz.
Alimento-me da desordem,
Do caos cósmico e coletivo dos seres errantes.
Nas minhas veias correm sangue caótico.
Sangue misturado a partículas de chumbo
Partículas colhidas da atmosfera.
E eu as respiro densas,
Até os pulmões incharem do metal pesado.
Coloquei sal na cavidade que outrora era o coração.
Eu grito mais alto.
Nestes versos vomito a raiva cega,
Escarrada pelas linhas do papel ou em teu rosto que seja.
Quero que todos vejam os eruptus de sangue...
...jorrados por minha esferográfica.
Tumores de ódio, palavras que não manifestam paz.
Exclamei um último agouro moribundo:
A boca bradou teu nome.
Não sei se por amor, tédio ou prazer... Nada.
Nada é só uma palavra que minha ira traduz,
Mistifico tudo em versos. E estes versos não passam de nada.
Já diz Bandeira: “escrevo versos como quem morre”.