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domingo, 9 de dezembro de 2012

Brindemos meu amo.


Brindemos meu amo.  


Encha seu copo com minhas lagrimas, transbordo minha taça com tua fúria, com teus olhos que só dizem raiva, com tua boca que narra o silêncio, com teu corpo que traduz meu tesão.
Eu vejo o mundo através desses meus óculos gastos e cansados.
Minhas lentes não desmistificam mais o real da ilusão, e não adianta mentir compaixão nem medir a precisão do quão profundo podes me cortar antes que o meu sangue jorre e suje sua linda alma com meus pecados.   
Só tenho agora os carinhos do motor.
Máquinas não mentem jamais.
Circuitos timbres e agonias da alma mecânica.
Rendermo-nos às verdades algorítmicas.
Restam-me os carinhos do inorgânico. 
Mas esta sangria que jorra de suas veias me engana.
Minhas lentes não traduzem nada. 
Que mundo é este óculos do inferno?
Falas de amor, então por que não é orgânico?
Vamos meu amor, aperte o gatilho. 
Quero ouvir do inferno tua linda risada medonha e me esbaldar em medo.
Quero ouvir o disparo, soando como uma sinfonia de destruição.
Quero ver o projétil atravessar meu peito asmático e gasoso.
São estes teus olhos, torturando-me mais que mil navalhas, e mesmo assim me acalentam.
Enchei teu copo com meu sangue, com meu cheiro intenso e abrasador.
O amor sangra. É como uma ferida que poderia sarar se pudéssemos parar de lamber.
Mas como não paramos: a ferida vira um tumor.
Será que morreremos de câncer?
Ou nos arrastaremos de pereba em pereba até a morte de nossa última quimera?
Amputarmos as línguas. É isso o que faremos.
 Sem câncer sem amor sem palavras.
Brindemos meu amo.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cenas


Os pássaros de Hitchcock querem devorar meus olhos.
Sinto-os cobiçando o que eu vejo:
A tempestade da cor dos teus olhos, iluminados olhos.
Corvos que arrancam meus pensamentos, devorando-os feitos vermes.
Talvez seja o olhar do demoníaco em branco e preto de Bela Lugosi.
Sinto chupar meu sangue quente, gota a gota. Só para fortalecer sua juventude.
Malditas são as vozes que atormentam meus ouvidos.
Plantando tormentas em meu cérebro.
Sim, eu sei que você quer saber o que se passa em minha mente.
Eu só desejo um amor e uma magno 45.
Mancharia toda essa parede com meus pensamentos.
E os nacos encefálicos ornamentariam esse celeste infinito, perene e azul.
Gritos de tormentas são o que trago na mente, meu amor.
Levem tudo, pássaros malditos. Beba o sangue nosferatu.
Quero ser um zumbi cego, quer viver sem teu amor.
Sim, eu sei que você quer saber o que trago em minha mente.
Meu sangue é amargo. Meu suor é frio, mas o disparo da 45 sai quente.
Apague as luzes, ou melhor: feche os olhos.
Quero que unte meus lábios com teu batom cor de pecado.
Teu cheiro forte e quente. Tua boca a morder meu pescoço.
Apenas os corvos sabem os delírios minha mente.
O olhar vampiresco de penitencia segue a mirar meu crânio vazio de tanto pensar em ti.
Mantenha os olhos fechados, Kubrick e o seu perfeccionismo imploram, com canções minimalistas a cantar teus encantos.
Nesse momento menor, só quero a esmola de um carinho.
Mas só vejo dentes brancos a arranharem minha alma tarantinisca.
E meu instinto de cão de aluguel a uivar para tua lua.

sábado, 2 de junho de 2012

Tempo

Queria que o tempo queimasse. Passasse sereno e esfumaçado como a fumaça tóxica do cigarro. Só queria penetrar pela última vez na tua vulva quente, e dar minha risada grotesca.

Queria o tempo sujo. Mal higienizado. Na falta de profilaxia das pernas de uma meretriz barata eu me perderia. Ou me acharia desde que parasse de solver o barro orgânico e célere do tempo.

Beije-me com os olhos abertos. Mente na minha cara, mas um pouco. Posso ver as unhas sujas a me enredarem. Lábios negros, cruéis, tentadores: beijai meu símbolo fálico tombado a esquerda. Deixei o tempo para me tornar imortal. Mas ainda não soprem minhas cinzas ao vento.

É preciso mais um quartinho embriagante de versos, amor, ódio ou qualquer merda dessas aos soluços rotos. Agora tempo: queima-i. Mimoseando as lagrimas. Não! Não são sentimentos isto que vês.

É apenas a neblina do cigarro a esfumaçar a vista, é o tempo que passa e nem vemos. Expressaria algo se houvesse tempo. Metaforicamente, tempo e vida se unem para nos comerem. E apenas fico assim: vestido de nu. Percebo que não trago comigo nem meus próprios sentimentos.

As rugas na face não me deixam caído. Meu escroto só clama uma lambida ultima que seja. E seus três olhos em brasas, não vêem que o tempo foi passando, como um disparo de uma arma calibre 45.

O tempo passou tanto que não deu nem tempo de dizer adeus. Gozei, limpei, lavei, botei, tirei, escapuli, gritei, gemi, lubrifiquei, fudi, morri... Morri. Mas no ultimo segundo, oh! Tempo, beijai-me e dizei-me no ouvido, mordendo a orelha e lambendo os lábios. Antes de devorar-me. Dizei-me:

A vida é uma bela, talvez cabeluda. Então, enfim, esfregai essa rapariga na minha cara. Foi bom pra você? Agora tempo: lambei toda essa porra como a boa vaca que és. O tempo queimou. Ficai com as cinzas.