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domingo, 24 de agosto de 2008

O PASSO DO TEMPO

Meu embrião miserável vagou pelas apertadas paredes da pré-vida,
Rangendo a raiva do uno num agouro prévio dos mortais,
Eu vou seguindo a existência, arrancando pedaço por pedaço toda melancolia
Que se arrasta cotidianamente. Até descarnar os ossos.
A irrealidade cruel dos passos omissos desgastados pela oxidação das veias carcomidas pelo monóxido de carbono me bate a cara, deflora minha mente.
Vejo a exacerbação do dia, dos raios que torram minha pele cancerigenamente,
Vejo quão algozes são as luzes, e os sons a me desviar, vejo o tempo se esvair num passo descompassado rumo ao nada, ao desprazer de amar cada instante em vida.
Meu corpo já formado pedi uma alma.
Sem sonhos, quero que reste apenas a vida, e que doa cada momento.
Lanço ao inferno a gênese dos amores que hão, eu vaticino, sei vão me sangrar.
Mas nada faço, regozijo-me na dor, é a vida.
Crescem os tecidos, se estraga o fenótipo, meu choro agora é quente,
E minha carne reflete as pancadas da solidão,
Meus olhos deprecam o pútrido de uma compaixão mesmo que preguiçosa como o sono da morte.
Sei que é necessário coadunar meus restos aos restos de outrem,
Sem calmaria numa ressonância de almas coladas como uma patogenia psíquica.
Porém, descreio. O futuro está numa caixa retangular coberta de fenecidos dogmas amorosos. Sem fé o corpo viaja nas mentiras existências, na confusão dos desejos e prolixidade dos versos.
Quero um amor encarnado, que suje minha couraça de caluniadas verdades inglórias,
Mas não há verdades, só um velho embirrento a empunhar o aguilhão da morte bradando sempre o mesmo grito de desilusão ceifando amores que não vivi,
Queimando minha biografia como um feto estéril.
E desfalecido e inerte sou a prova viva desse mundo cão.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O PECADO DOS VERSOS

O desejo desliza nas pontas dos dedos,
As mãos entrelaçadas foi um instante de eternidade.
A mentira começa antes do encostar dos lábios.
Apalpo o silêncio oculto da tua sombra,
E enquanto bailas lentamente, descontentam-me os anseios.
Seu corpo parecia possuído pelo diabo,
E eu querendo exorcizar-te aos afagos.
Mas esta noite tudo vai queimar:
Tão intenso, sem razão e pra sempre.
Só a lascívia impregna o ar.
E nessa definição me arrasto,
Junto a teu corpo noite adentro na insegurança das horas.
O óbvio já foi despedaçado, mas ainda busco teu perigo, teu gosto.
Levado por uma revolução orgânica que me treme as vísceras.
O teu requebrar de fêmea me seduz,
Guia-me por caminhos existências que conduzem aos teus seios,
A minha excitação mais prolongada, ao meu mal mais nocivo.
É só fechar os olhos e sonhar com teu infinito:
Um encanto do cotidiano que me abençoa a centímetros da tua boca.
É minha busca pela “pegada” perfeita que me escraviza.
E em ti se desfaz o poder da minha ira, o sentido da busca.
Nas ancas, nos quadris de mulher voluptuosa, na tua sagacidade.
Vem beija-me a boca. Convido-te a pecar, a cair na vastidão do tempo.
De forma lúbrica num entrelaçar de epidermes, ventos e salivas.
Sem nostalgia do que não foi,
Só a vontade de comer-te na impaciência da carne,
E ainda lamber os ossos.
Até desfalecer todos os meus desejos,
Até penetrar na tua alma.

MEUS, MINHAS E TEUS PRONOMES.

Minhas certezas se fragmentam,
Viram pó diante do céu que se estende como uma mortalha de sonhos.
Ainda sinto meu rosto corado a te ver,
Tão estático e decrépito.
Pensamentos lascivos, isto inclui você.
Mas diante do que falo te excomungarei, com todo o amor das vísceras.
Estas palavras serão minhas confidencias.
Por mais forte que sejam. Eu fecho os olhos antes do escarro.
Mas me prometa: nunca falar que me ama.
Por que quero assim: Sem destino, sem verdades, beijos sem explicação.
A intensidade de um infarto.
Todos os dias grito e alto e fundo que não acredito em amor.
E esta mentira e satisfaz! Qual a sua?
Pintes as unhas de vermelho antes de cravar a faca em meu peito,
Não quero ver teu desmantelo ao me dá as costas,
Nem sentir minha angustia quando beijar-te a fronte.
Assim, distraidamente num desapego de emoções.
Siga esta linha de enganações traçadas no chão, marcas do sangue.
E mesmo assim venha ser a luz do meu farol,
Presos sem alternativas na amplitude do nosso singular.
Aniquilando o comum, mas sem nada de especial,
Não vou olhar em teus olhos e me perceber campeão.
Minha incoerência será a salvação, pois não quero linearidade,
Apenas o concreto cobrindo meu caixão.
Por que eu fujo do que acho ínfimo, e num amplexo apalpo o que me convém.
Beijando o que há por vir:
Tua boca ou escárnio.
Mas não toque em minhas lembranças,
Nem perguntes a meu respeito.
Estes são meus possessivos não subtraia deles seus direitos.
Apenas misture-se a meus desejos, ou serão meus defeitos?
E sirva-me sem pecados o teu doce sabor.

A NOITE DA MINHA MORTE

Eu que cerro meus os olhos esta noite.
Não acho amores que mereçam o meu,
Só o passo lento rumo à campa,
Num compasso lânguido de vida e temor.
Sigo assim: Sem ansiedade o pensamento que me enegrece o pesar.
Ninguém vai ler na minha face horrenda,
Os sinais de tristeza a que me prostitui esta noite.
No fim ante a morte, ah! Minha querida amiga!
Hei de gozo cair na galhardia,
Indo rumo a uma região de paz sinistra.
Onde sombras me enredam e cobrem a vida de negro.
O amor se vai no decorrer da noite,
E ainda não sei nesse açoite diário de madrasta
Que a vida me dá em que consiste o viver?/!
Começo a lamentar os amores que me prostituíram,
E mesmo assim neles cri.
Não há sonhos de paz a regarem minha alma.
A febre rege minha insônia.
A asma regula por baixo minha respiração,
Apagando aos poucos os olhos.
Queria um beijo, em delírio anelo.
Berro até os ecos de solidão alcançarem o infinito,
Estremecendo, puxo a coberta já ardente de suor.
Meu leito refeito em ardor, nesse momento meu espírito se esvai.
Depravam os olhos, cada suspiro é fraco é último.
Suplico na alcova solitária: Não deixem meu corpo morrer abandonado.
No silêncio derramo um canto vão,
Por entre as sombras que bailam em zombaria por meus desamores.
Abro a janela deixo a lua clarear meu quarto-tumba.
Sinto a vida me deixar.
Sem suspiros de fé,
Que os céus inflamem minha ira,
Mas não emplaquem a morte.