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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Hora

Reverberações de um espectro sofrido,
Onde ando por horas dentro de mim,
Palmilhando meus próprios esquadros,
Numa hora morta sem fim:
Assim se titularia a solidão - sobra de hora.
Nas minhas ladeiras estreito e afino:
Até virar uma sombra:
Uma sombra sem alma,
Uma sombra atrelada a tua:
Indivisível e prosaica como o cotidiano.
Sempre careceremos de um pouco mais de alma.
Sempre mais perto da essência,
Onde nossas acepções possam respirar puramente.
Numa espécie de hora preguiçosa:
Uma claridade lívida nos enreda...
Sem pressa. É tudo tão sereno.
Deixa-se assim, o anseio não desnutre a medida.
Recolhemos passo a passo nossas poesias do chão.
E a noite que se arqueia rígida no firmamento:
Manto de sonhos a destroçar nossa solidão.
Deixai a hora morrer solitária a pele.
Deixai a boca sugar a pele.
Deixai a pele encrespar ao toque.
Deixai o toque aliciar os desejos.
Deixai os desejos tomarem conta.
Porque agora é tudo por nossa conta,
Tabuada e melodia... Nossa maneira... Nossa hora.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Palavra

Almas palpáveis:
Apenas nesse momento...
Aqui nesse momento:
Indiferentes a solidão.
Agoniante solidão.
Não temos medo da solidão:
Apenas respeito.
Ter medo da solidão é ter medo da vida.
É ter medo de nós mesmo:
E isso não nos interessa.
Duramos o tempo que o eterno merece.
Como palavras, como paixões, como canções.
E as razões:
Que seja à nossa maneira.
A partir da solidão nos reconstruímos.
Solidão: Palavra líquida.
Escorra pelo ralo,
E não nos incomode mais.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Palavras que escreveria no teu corpo

Corpo...

Nas tuas curvas meus desejos vivem:
Buscando o obscuro-claro derme com as mãos.
Fazendo o coração corar de vez.
Unhas buscam a carne alheia.
Minha carne, tua unha:
Leva um pedaço de mim.
No teu corpo só...
No teu corpo o meu...
No teu corpo o sol, o quente do asfalto.
No teu corpo: o objeto da vontade.
No teu corpo... Arrepio ao toque do meu.
No teu corpo... Ergui a morada da minha ambição.

Achego...

Sobre a encosta do meu corpo:
A delicada embriaguez do corpo teu.
O vento sopra o sussurro dos teus lábios.
Os lábios que se tocam, friccionam:
Silencio, uma vontade imponderável de gritar...
Mormaço... Adular o corpo teu:
Tiquinho do céu que dependurei sobre minha morada.
E o sangue que ferve num murmúrio de arrepiar.
A respiração que ofega: sentidos apurados.
O suor que cerra os olhos, arde, ferve o corpo teu e o meu.
Achego nas mãos que procuram teus cabelos.
Achego... Achei meu vicio, meu novo deturpo:
Teu achego: aconchego das rimas e corpo meu.

Morada...

Impreciso e acolhedor:
Teu corpo que me guia;
Teu corpo abrigo.
Não tenho querer, vago em ti.
Corpo vago sem ti.
Encher nosso corpo e copo quente com luz,
Luz que fura e alumia nossos corpos ardentes.
Pertos da mesma essência:
Sentidos que respiram a volúpia dos encontros casuais.
Amasso... Coadunação de matéria,
Veias que querem se encontrar.
Bocas... Entrelace de línguas.
A nuca que eriçou, franzindo nossos desejos.
Bocas que mordem a ânsia por carne quente.
Boca... Minha morada misteriosa.
Boca: onde começam meus sonhos.
Boca e corpo: meu achego.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

P/ nós 2

Eu... Para nós dois assim:
Para nós dois o murmuro de arrepiar;
Para nós dois cantigas pra bailar;
Para nós dois o multou gostar.

Eu... Para nós dois sem fim.
Para nós dois o talvez.
Para nós dois o repartir,
O conviver, o espalhar, se controlar.

Eu... O esvair, o encantar, descontrair:
Nunca descompassar.
Para nós dois, o simplório desses versos pra desentediar.
Até quando o eterno durar.

Eu... Para nós dois o restinho do imponderável,
O nada, inexorável, eterno, o inexeqüível e tudo.
Para nós dois: empatia, afeto, afinidade, amor:
Ocitocina.

Eu... Para nós dois enfim:
Finito até quando nosso Deus deixar;
Até quando nosso Deus sorrir e se contentar;
Até quando tua alma me abraçar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Desesperos do verbo

Há um subjuntivo, um retrógado gemido inteligível de um sentimento que não cabe na imensidão da alma.
Sai do âmago, solitário, abafado, quase inexprimível.
O clamor é tímido, se esgueira, esbarra na traquéia, pugna pra não se perder.
Vibra não desiste e mesmo inerme quer bradar ao teu intento.
Numa servidão de minha exclamação e teu escutado.
Berreiros que explodem dos meus lábios gélidos gritando o teu nome.
Cada letra é cuspida desesperadamente.
Desequilibradas, guinam pela beirada do meu gemido.
Desprega das minhas letras guturais uma amargura,
Os versos sentem falta do teu excesso,
E meus gritos ecoam ao desperdício de uma idéia corrosiva,
Que vai me destruído, descontrolando... Amando-te.
Dos meus amores quero ao menos o básico, o essencial, ou o que sobejar.
Se tiver ósculo quero o exponencial, hausto salivante e quente.
Natureza humana em ruínas sou louco de raiva.
Na loucura tudo coexiste intenso e trágico.
E me deslínguo dos outros, num monstro de extensa humanidade:
Eu hoje vendi a alma, financiei por um beijo, lucrei desesperos.
Silencio! Quero gritar e sou taciturno.
Então múrmuro teu nome pelos ouvidos surdos do mundo.
Amortiza! Harmoniza! O tom original.
Tua boca me calou.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carnívoro (ou corpo II)

Por que a ti, eu absorvo.
O meu corpo que a transcendência de uma alma.
O corpo aprisiona a alma:
Invólucro de carne.
Alma inoxidável: salta pra roer a tua alma.
Acho que esqueci minha alma na esquina babada das intenções;
Esqueci nas entrâncias que desesperadamente busco morder;
Esqueci-a na minha fome carnívora que saliva tua carne.
Carne em que quero fincar o dente e abrir sulcos aos caninos.
Esputo tua carcaça, mastigo teu gosto forte e quente.
Quero morder, arrancar a língua, deixar a pele alva rocha:
Chupada de desejos; desesperada. Quero a alma.
A minha aspiração é aglutinada nas ruínas do teu ser cuspido:
Babado; água e boca. Quero a pele.
As palavras arranham a goela.
Desfalecido no mormaço da tua derme:
Eu descobri um mundo só meu.
Ele é estático na sobriedade mental,
E só rotaciona no vicio desesperado do beijo teu: lambido.
Não quero as carnes viradas ao meu oposto.
Tento transcender as barreiras do anatômico na saliva.
Em busca eterna pelo teu metafísico:
Eu vou babando tua sede com a ebriedade da minha boca.
No gosto azedo do sal da tua pele, no afrodisíaco do teu cuspe.
Absorvo a ti, por quê?.

Sinestesia

Somatório das sensações corpóreas.
A metafísica corroeu o hemisfério direito do meu cérebro.
Queria um coração de polímero que desmistificasse os desenhos borrados da minha face.
Talvez haja entre nós o mais total infinito.
Uma espécie de antes e depois,
Onde meu agora se transforma em tudo e todos os segundos se perdem no ar.
A minha alma esta noite ganhou um riso.
Agora eu cuido da vivência gástrica.
Mas não sei em que cor, em que tom, ou em que voz rouca se perdeu o olhar;
O meu olhar amargo e quente esqueceu uma lagrima sobre a pele escura.
Mas eu ainda mimo a vida que há lá fora,
Lá pra longe da minha imensidão:
Onde eu sou apenas um amante... Simples amante.
Que antes de te conhecer eu nem sonhava em ser.
E assim ante os olhos, antes dos lábios se tocarem, na hora última da sinestesia,
Quando as palavras já emudeceram o choro de desalento... Desencanto...
Vi tua boca: e nada nem que eu morra traduz o agora nem conjuga o nós.
Minha alma esta noite ganhou um riso.

Corpo

Metafosearia teu corpo em objeto: só pra mim.
Intocado por meus sentimentos silenciosos.
Palavras... Não necessito delas.
O silêncio exprime o prolixo.
Bocas, fala, dicção:
O silêncio não menti jamais.
Minha palavra fogo, carvão, cinza.
Quero as palavras rocas.
Melhor: quero as palavras mudas.
Quero o inexprimível.
Quero aquela palavra que escapou num sussurro.
Que nenhuma figura se interponha entre meu lábio e tua boca.
Tua boca... Incendiaria.
Que o silêncio ao nosso derredor seja apenas alteio de vermelho chupado.
Carmesim do teu corpo.
Teu corpo... Uma constante ao meu lado.
Corpo... Onde meu infinito se acha,
Onde meus vários eus se encontram,
Mesmo perdidos no mesmo reflexo turvo dos teus olhos estreitos,
Olhos encerrados de dúvidas e miscigenados de desejos.
Desordem de vísceras e almas num mesmo corpo.
Abnegado ao corpo.
Um sentimento egoísta de querer teu corpo só pra mim.
Corpo... Onde meu finito jaz feliz.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Cumplicidade

Eu trago na caneta todas as cores,
Riscando teu nome pela madrugada.
Tateando a modelagem da tua derme com todas as palavras.
Todas! E mais esta que tua boca calou aos beijos.
Sussurrando ao teu ouvido as mentiras que nos interessam.
Só as convenientes... Lógico!
Não desperdiçarei nossa eternidade em embustes.
Nossa escuridão: o instante infinito, perene, calmo.
Palpável escuridão.
Queima as retinas o sal do suor:
O suor do desejo, o sal da vida.
Corpos ficam ofegantes e encrespados com a proximidade:
Nervoso! Palavras se libertam junto às salivas.
A escuridão se mistifica em nossos braços.
Abrasadora escuridão.
Devorarei tua carne nessa minha vontade faminta.
Vontade carnívora que procura a imensidão dos teus entalhes.
Corrompo a cobiça por tua carne com minha caneta de múltiplas cores.
Na escuridão minha caneta reluz:
Ela quer alumiar o teu nome;
Ela que riscar de versos o finito avesso dos nossos corpos.
Na mansidão da minha alma eu gravarei o teu nome:
Tatuando com o ardor dos teus beijos a minha fome.
Dos grafites da escuridão eu levantei este verso:
Faminto; ósseo; ruído e teu.
Na cumplicidade das nossas bocas eu risquei até a escuridão.
Adeus escuridão, a Deus.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sentimentos ( ou isso é amor)

As vaidades saltam aos olhos,
certas palavras destroem o amor.
Vejo que todas as vertigens foram só maldades da alma,
Todas as vertigens foram crueldades.
Concluo que o amor é uma cortesã de pernas escancaradas,
que de tão esburacadas percebem-se as entranhas...
Penetro sem medo, rasgando a pele e transcendendo barreiras orgânicas,
por entre as pernas, dentro e fora, até me esvair em tremor.
Num vai-e-vem pulsante, um compasso binário, até desfalecer-me em seiva.
Ufa! É o fim de mais uma batalha de veias.
E depois de lavada: o amor há de cobra seu preço.
Quaisquer trinta moedas de prata saciam a ânsia egoísta, pagam as ilusões cedidas.
Mas calma! Observo tudo, imito.
Concluo que me venderia por menos.
Aprendo tudo, e enquanto gozo:
formulo minhas teorias de caos.
A minha alma é carnívora, corrói os tecidos, descolorando imensidão.
Descoberta todas as vergonhas da cara:
outra masturbação de sonhos a contrair-me os nervos, a aliviar-me os desejos.