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sexta-feira, 28 de março de 2014

Sonhos de vento

Meus moinhos de vento não irão mudar o mundo.
Talvez o mundo não precise mais de sonhadores.
Ou meus sonhos foram incendiados pela ira dos olhos raivosos e vorazes.
Talvez não existam mais ventos.
Então, qual a serventia dos moinhos?
O vento sopra, movem pás, giram a moenda, movem o mundo, sopram a carne.
Assoviando um canto de murmúrio: assim fazem meus lábios.
Meus sonhos de vento não irão mudar o mundo.
Talvez o mundo não precise mais de moinhos.
Então, qual a serventia dos sonhos?
Talvez não haja mais moinhos.
O vento abandonou o moinho aos sonhos de girar, moer, soprar.
Moinhos de vento são gigantes caídos.
Assoviando um canto de desgraça: assim fazem teus ventos.
O vento cessa, param as pás, enferrujam a moenda, Morre o mundo.
Morder e regurgitar a tua carne: assim falou o gigante caído com o sopro.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Simples palavras

Queria as simples palavras.
Palavras simples querem o complexo.
O áspero, o soco na face depois do amor.
As palavras simples exigem a verdade,
Não cabem a elas o subterfúgio da fuga, da esquiva, da indecisão.
As palavras simples têm a função de ferir, matar, cuspir num brado.
Elas querem arder na goela, esmagar o divino, gritar teu nome.
As palavras simples despertam o Neruda.
Queria as palavras simples.
Inclusive essa que tua boca calou.
O complexo das nossas vaidades sentimentais.
Queria as palavras simples, achei teu nome.

Aliterações

O principio do fim.
Ou talvez o fim seja o principio.
Ou não haja nem principio e nem fim, nem intercalações.
Só haja o agora.
E o que somos agora?
O que somos nesse instante no qual morremos e matamos no silencio?
Será que o amor tem data de validade, prescreve, transmuta e não mais transcende?
É difícil não pensar no metafisico.
Não pensar no divino.
O frio etéreo que mata os micros organismos,
Também mata o que nos resta de alma.
E esta minha alma talvez já esteja esquartejada.
Sangrando abandonada numa viela fria e imunda.
De onde vislumbro teu quente escarro na face torporizada.
Não mendigarei esmolas de carinho.
Porém a dor me lembra de que ainda sou humano,
Que sangro quando me batem, que choro.
Mas ainda queria tua mão frigida a amolengares os meus sentidos.
Preciso saber até onde se eleva a minha alma.
Qual o limite das minhas vaidades.
Qual o volume, a medida do amor, a exata configuração dos nossos sentimentos?
Preso na teoria do eterno retorno.
Será que o amor vai mais além?
Mais além dessa casca de noz, dessa minha couraça?
Queria embrulhar a felicidade pra viagem.
Porções diárias numa capsula inscrita: instantânea.
Mas sou sempre atormentado, é o principio ou o fim?
Ou cíclico, como o eterno retorno?

sábado, 8 de março de 2014

Horas vulgares

Na solidão bestial das trevas.
Vim a tua morada, oh! Morte dos amores idos.
Vim cantar meu canto melancólico.
Minha morte e vida, oh! Morte dos mores idos.
Abre teu seio, mostrai tua vulva vermelha.
Que te mostro minhas chagas.
E meu pau duro e oblíquo.
Oh! Morte dos amores idos, maldito seja.
E miserável o homem que sou.
As trevas enredam, carcomem a alma.
Ejaculam mentiras aos céus:
Menti, menti mais, menti gostoso.
Eu tento mentir, fingir. E grito:
Goza vadia, goza...
Que eu quero esfregar meus dedos e sentir o odor quente.
Foda a alma dos amantes, oh! Morte dos amores idos.
Mas morte dos amores idos,
Depois de foder, lavai os lábios,
Os grandes e pequenos, o batom carmim.
Eu recolherei meu insignificante membro.
Darei-te-ei boa noite, cinicamente, mas com amor.
E tu, oh! Morte dos amores idos,
Murmurarás no meu ouvido, confessando em gemidos delirantes:
Se fodeu, essas horas foram vulgares.