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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sem corpo

Espírito sem corpo, eu solvi as tristezas do globo numa lapada só.
Diretamente da garrafa verti o liquido tóxico que me contaminou a existência.
Vi a face do demônio: ele rugia, vociferava ao meu infinito o intento da sua lábia.
E eu me esvaziei de mim mesmo,
Liberto de desejos e a pedaços milimétricos do fim.
Guardo a inconsistência dos sonhos, roubei-as quando o demônio pestanejou.
Ante o roubo vejo que tudo é uma cópia de outra cópia que se mistifica nestes versos de morte, fim de arte.
Quero uma fase síntese de mim.
Crio etilicamente outra realidade pra explicar o meu novo eu ridículo.
Embaço a existência com a garrafa venenífera.
Quero que minhas palavras se esgueirem pelos escutados taciturnos do mundo.
Esvaindo-me pelo chão embriagado:
Esta noite todos me amam, o mercante quer meu dinheiro;
O amor depende de quem compra, depende de quem vende. Quanto você tem?
Eu guino rindo sinistramente da lascívia que me encanta.
Em meio ao brilho etanóico o deletério é menos destrutivo.
Vejo que todos os abstêmios dormem.
Nesse momento meus versos saem às ruas buscando um nada.
Quero uma garrafa mesmo que vazia, o gosto talhante do caco de vidro.
Busco uma objetividade mutável, inútil, intraduzível, fundamental a alma:
Busco amor, mesmo que bêbado.

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