capa

capa

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cenas


Os pássaros de Hitchcock querem devorar meus olhos.
Sinto-os cobiçando o que eu vejo:
A tempestade da cor dos teus olhos, iluminados olhos.
Corvos que arrancam meus pensamentos, devorando-os feitos vermes.
Talvez seja o olhar do demoníaco em branco e preto de Bela Lugosi.
Sinto chupar meu sangue quente, gota a gota. Só para fortalecer sua juventude.
Malditas são as vozes que atormentam meus ouvidos.
Plantando tormentas em meu cérebro.
Sim, eu sei que você quer saber o que se passa em minha mente.
Eu só desejo um amor e uma magno 45.
Mancharia toda essa parede com meus pensamentos.
E os nacos encefálicos ornamentariam esse celeste infinito, perene e azul.
Gritos de tormentas são o que trago na mente, meu amor.
Levem tudo, pássaros malditos. Beba o sangue nosferatu.
Quero ser um zumbi cego, quer viver sem teu amor.
Sim, eu sei que você quer saber o que trago em minha mente.
Meu sangue é amargo. Meu suor é frio, mas o disparo da 45 sai quente.
Apague as luzes, ou melhor: feche os olhos.
Quero que unte meus lábios com teu batom cor de pecado.
Teu cheiro forte e quente. Tua boca a morder meu pescoço.
Apenas os corvos sabem os delírios minha mente.
O olhar vampiresco de penitencia segue a mirar meu crânio vazio de tanto pensar em ti.
Mantenha os olhos fechados, Kubrick e o seu perfeccionismo imploram, com canções minimalistas a cantar teus encantos.
Nesse momento menor, só quero a esmola de um carinho.
Mas só vejo dentes brancos a arranharem minha alma tarantinisca.
E meu instinto de cão de aluguel a uivar para tua lua.

sábado, 2 de junho de 2012

Tempo

Queria que o tempo queimasse. Passasse sereno e esfumaçado como a fumaça tóxica do cigarro. Só queria penetrar pela última vez na tua vulva quente, e dar minha risada grotesca.

Queria o tempo sujo. Mal higienizado. Na falta de profilaxia das pernas de uma meretriz barata eu me perderia. Ou me acharia desde que parasse de solver o barro orgânico e célere do tempo.

Beije-me com os olhos abertos. Mente na minha cara, mas um pouco. Posso ver as unhas sujas a me enredarem. Lábios negros, cruéis, tentadores: beijai meu símbolo fálico tombado a esquerda. Deixei o tempo para me tornar imortal. Mas ainda não soprem minhas cinzas ao vento.

É preciso mais um quartinho embriagante de versos, amor, ódio ou qualquer merda dessas aos soluços rotos. Agora tempo: queima-i. Mimoseando as lagrimas. Não! Não são sentimentos isto que vês.

É apenas a neblina do cigarro a esfumaçar a vista, é o tempo que passa e nem vemos. Expressaria algo se houvesse tempo. Metaforicamente, tempo e vida se unem para nos comerem. E apenas fico assim: vestido de nu. Percebo que não trago comigo nem meus próprios sentimentos.

As rugas na face não me deixam caído. Meu escroto só clama uma lambida ultima que seja. E seus três olhos em brasas, não vêem que o tempo foi passando, como um disparo de uma arma calibre 45.

O tempo passou tanto que não deu nem tempo de dizer adeus. Gozei, limpei, lavei, botei, tirei, escapuli, gritei, gemi, lubrifiquei, fudi, morri... Morri. Mas no ultimo segundo, oh! Tempo, beijai-me e dizei-me no ouvido, mordendo a orelha e lambendo os lábios. Antes de devorar-me. Dizei-me:

A vida é uma bela, talvez cabeluda. Então, enfim, esfregai essa rapariga na minha cara. Foi bom pra você? Agora tempo: lambei toda essa porra como a boa vaca que és. O tempo queimou. Ficai com as cinzas.