Brindemos meu amo.
Encha seu copo com minhas lagrimas, transbordo minha
taça com tua fúria, com teus olhos que só dizem raiva, com tua boca que narra o
silêncio, com teu corpo que traduz meu tesão.
Eu vejo o mundo através desses meus óculos gastos e cansados.
Minhas lentes não desmistificam mais o real da ilusão,
e não adianta mentir compaixão nem medir a precisão do quão profundo podes me
cortar antes que o meu sangue jorre e suje sua linda alma com meus
pecados.
Só tenho agora os carinhos do motor.
Máquinas não mentem jamais.
Circuitos timbres e agonias da alma mecânica.
Rendermo-nos às verdades algorítmicas.
Restam-me os carinhos do inorgânico.
Mas esta sangria que jorra de suas veias me engana.
Minhas lentes não traduzem nada.
Que mundo é este óculos do
inferno?
Falas de amor, então por que não é orgânico?
Vamos meu amor, aperte o gatilho.
Quero ouvir do
inferno tua linda risada medonha e me esbaldar em medo.
Quero ouvir o disparo, soando como uma sinfonia de
destruição.
Quero ver o projétil atravessar meu peito asmático e
gasoso.
São estes teus olhos, torturando-me mais que mil
navalhas, e mesmo assim me acalentam.
Enchei teu copo com meu sangue, com meu cheiro intenso
e abrasador.
O amor sangra. É como uma ferida que poderia sarar se pudéssemos
parar de lamber.
Mas como não paramos: a ferida vira um tumor.
Será que morreremos de câncer?
Ou nos arrastaremos de pereba em pereba até a morte de
nossa última quimera?
Amputarmos as línguas. É isso o que faremos.
Sem câncer sem amor sem palavras.
Sem câncer sem amor sem palavras.
Brindemos meu amo.
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