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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Alucinação, elucubrações e pensamentos de amor.

Desculpe-me, mas eu me perdi. Distraí-me vendo as nuvens a frevarem alegremente. As nuvens não ligam para o tempo que passa célere e mordaz. Ouvi nos altos céus o canto dos afogados e desesperados, eles clamam por nosso instante de paz. E o que resta da minha alma imortal é egoísta: deseja o sopro que balança as nuvens só para ela, apenas para desdenhar dos demais.
Distraí-me vendo o teu corpo a balbuciar o som do suor. A poeira do atrito dos nossos corpos. Apenas uma fração de alegria para enlatar minha vida junto a tua.
Foi nesse momento que eu vendi o restante da alma, mas tenhamos calma: agora minha alegria é em conservas, porque tudo pode ser breve, mas não é pouco.
Sinto muito, eu me perdi, por um instante, apenas um, eu juro. Foi apenas um segundo do teu sorriso que me redimiu, desarmou minha ira. Mil dias em um dia e vice-versa. E eu juro que ainda estou perdido.
Mas uma dose ou esmola de um afago. Não quero a revogação de nada, apenas olho o tempo a dançar.
Embriagai-me. Açoitai-me com os fulgores celestes, mas nesse instante só quero minha carne em tuas unhas.
Desculpe-me, me perdi na poeira das palavras, nas chuvas neurais. É necessário dar um nome a hierarquia dos sentimentos. Retratando em cores nossa vida diante dos olhos fechados do mundo cruel.
E enquanto todos estavam cegos:
Vi teu rosto se espelhar no meu olhar.
Vi teu olhar refletido no céu, denunciando teus encantos.
Fazia frio. O frio que fazia tua carne confortaria,
Cortaria o gélido aço incisivo do tempo.
Sei que a chuva nos untava de desejos.
E a expectativa crescia a cada gota que jorrava do céu furado,
E eu, contava as gotas como se aguardasse um milagre.
É provável que o firmamento conspirasse contra os nossos intentos.
Todos os inconvenientes ao nosso favor.
Sei que enquanto o sal do suor se diluía nas torrentes:
Meus caninos ansiavam tua carne, minha saliva queria babar teus ossos; e a minha pele, queria habitar a tua pele. Queria se liquefazer em fluidos corporais. Queria lamber tua língua.
Queria uivar pra lua, dilacerar tua pele aos beijos, mordidas e sussurros. O eu animal se contrapunha ao sensato.
Queria saciar assim, uma vontade retrógada, reprimida por muitos olhares desconhecidos e inebriantes.
Queria dar um fim a minha carne tremula, não queria mais sentir o frio, a chuva, o som.
Queria apenas entrelaçar meus braços em volta do que seria meu mundo.
Nas minhas veias corria um escasso sangue. Nos meus ouvidos, zunidos de frevo e chiados de alto-falantes.
E embaixo da chuva, ouvindo cantos de carnaval:
Nossas peles tão próximas.
Canções entoadas por pierrôs e colombinas.
Cole seus segredos em minha pele, eu gritei silenciosamente em seus ouvidos flamejantes.
Sentia a unha dela arranhando-me a nuca.
Era uma partícula de deus. Era a voz do demônio cobrando a aposta.
Era uma fissão nuclear que explodia em minha boca.
Era uma luta entre demônios e santos a queimar minha retina.
Segurei com força todo o ar.
Enterre toda a sua vida em minha pele.
Sei que nesse dia, o céu uniu-se a terra.
Atracando nossos barcos que outrora ficavam embriagados ao mar.
Vi teu rosto se espelhar nas inúmeras poças d’água.
E a multidão que nos cortejava, se calava.

Milhares de vozes mudas e olhos famintos a contemplarem: O beijo.  

4 comentários:

Anônimo disse...

poema longo mas é bonito. gostei da narrativa. fiquei imaginando as cenas.

Anônimo disse...

cara até chorei.

Rafael Rodrigo disse...

valeu, que bom que tenha gostado. eu também leio imaginando cenas, coisa louca essa tal imaginação em?!

Rafael Rodrigo disse...

ainda bem que chorou, um dos motivos desse blog é fazer as pessoas chorarem, sorrirem e ficarem emocionadas